Importância da arte na escola e na vida
1 de outubro de 2018
por Editora do Brasil
A crença cega na eficácia do currículo mínimo pode prejudicar as crianças e jovens à medida que atividades atrativas e envolventes desaparecem da escola. Além de conversar com exames importantes como o Enem, a arte é fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano
A arte faz parte da história do ser humano. O pensamento abstrato fundamentado na matemática, na linguagem e na representação criativa de situações vivenciadas são a marca registrada que os primeiros homens e mulheres da Terra deixaram para trás em cavernas. Em toda tribo remota que se descobriu na África, na Ásia ou na América Latina, os adornos corporais, a música, a dança e as histórias contadas – mesmo quando não há escrita – fazem parte do dia a dia das pessoas. Isso também é verdade para sociedades contemporâneas e ocidentais. Por isso, o debate sobre o papel da arte na escola deve levar em consideração que a arte já faz parte do cotidiano de toda escola, na medida em que todos nós ouvimos música, lemos romances e assistimos a filmes e séries. As culturas juvenis e urbanas também adentram os muros da escola, independentemente de a política da direção ser abraçar ou rejeitar determinadas expressões estéticas. No entanto, Claudio Anjos, diretor executivo da Fundação Iochope, acredita que forças tentam minimizar o papel da arte na escola e desacreditar sua importância na formação integral dos jovens.
A Fundação Iochope, que trabalha com a formação continuada de professores de Arte, afirma que atualmente apenas 6% dos professores de Arte no Ensino Médio têm licenciatura em Arte, o que empobrece o ensino da disciplina. “Passamos por um momento em que se tenta desvalorizar a arte, na escola e na sociedade em geral”, afirma Anjos. “Acreditamos que, para ter sucesso na vida, o sujeito precisa de uma formação integral e isso passa pela arte”, diz. A Fundação da qual Claudio faz parte trava uma batalha junto ao Conselho Nacional de Educação para que a Arte integre a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio. Para aqueles que acreditam que a BNCC deve seguir o princípio de currículo mínimo, a obrigatoriedade da Arte constitui um excesso corporativista mas, em um país onde o mínimo em educação costuma ser normalizado, a ideia permanece no radar.
Arte no currículo não se opõe à educação para o trabalho
Hoje, alguns grupos de pessoas defendem uma educação pragmática, focada em preparar os alunos para um trabalho que remunere dignamente. Existe um grau de ingenuidade nessa crença. Em primeiro lugar, não é a escola, nem a educação somente, que determina as condições de trabalho e investimento em um país. Forças macroeconômicas nacionais e internacionais, bem como a saúde do meio ambiente e a disponibilidade de energia e recursos naturais, têm um papel muito significativo. Outro problema implícito na crença de que a escola de qualidade vai, sozinha, resolver o futuro profissional de todos os seus alunos é a definição do que é qualidade. O que é uma educação de qualidade? A resposta não é tão clara assim. Educação de qualidade é aquela em que os alunos vão bem em avaliações de larga escala? Não necessariamente. É importante observar que toda avaliação tem uma matriz, ou seja, é criada para avaliar um conjunto de conhecimentos, habilidades e competências, e determinar essa matriz é um exercício de poder. Trocando em miúdos: é muito fácil elaborar uma avaliação enviesada para que determinados países, grupos sociais e orientações culturais se saiam bem, em detrimento de outros grupos, justificando assim diferenças sociais que, no fundo, se originam em si mesmas.
“Ter emprego e vida digna é muito importante, mas não é tudo. A capacidade laboral é apenas parte do valor de um indivíduo, ter senso de alteridade é muito importante”, afirma Claudio Anjos. “A função da educação é formar cidadãos; tenho que me conhecer, me valorizar, conhecer e valorizar a cultura e a sociedade da qual faço parte, para ocupar um espaço nessa sociedade complexa”, acredita ele. Ou seja, a escola deve se encarregar da formação integral do aluno, como futuro trabalhador e também como ser humano. O trabalho com a arte feito de maneira competente, de forma a valorizar o ser humano para além de sua capacidade laboral, tem – sem dúvida – um lugar na escola. Afinal, não somos somente uma máquina cognitiva a ser treinada para fazer projetos de engenharia, e enxergar o valor humano de cada criança é dever da escola.