Brasil: maioria da juventude excluída da educação de qualidade

5 de dezembro de 2018


Por Tania Pescarini

Dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que a inserção de jovens em empregos e educação de qualidade está atrelada a bons resultados na atual Economia do Conhecimento. No Brasil, a imensa maioria dos jovens de 18 a 25 anos não tem acesso a instituições de Ensino Superior que invistam em pesquisa. Menos de 4% se formam no Ensino Médio técnico.

No Brasil, é difícil o acesso à educação de qualidade, que ofereça garantias de boa empregabilidade e ofereça ferramentas para que a pessoa continue aprendendo por toda a vida. Quando olhamos para como funciona o Ensino Médio técnico e o Ensino Superior em outros países – a maioria mais bem-sucedida que o Brasil na produção de tecnologia de ponta – vemos que as sociedades que excluem menos tendem a ter melhores resultados acadêmicos. No Brasil, apenas cerca de 18% dos jovens de 18 a 25 anos estão matriculados no Ensino Superior. De quatro estudantes da graduação, três frequentam uma instituição privada, muitas das quais não investem em pesquisa e desenvolvimento. Em comparação, na média da OCDE, cerca de 50% das mulheres jovens e 38% dos meninos fazem graduação. Em muitos desses países, o vestibular, ou avaliação objetiva unificada, não é o único meio de ingresso no Ensino Superior.

No relatório Education at a Glance 2018, da OCDE, com dados da maior parte dos países do mundo, há uma abundância de evidências de que sistemas de ensino mais inclusivos geram avanço tecnológico e melhoram a produtividade. O melhor exemplo talvez seja a Coreia do Sul, país em que menos de 5% dos jovens entre 25 e 34 anos não concluíram o Ensino Médio. Esse país, que era agrário e com a maioria da população analfabeta na década de 1960, hoje é uma das nações mais industrializadas do mundo. Tudo isso foi conquistado por meio do investimento em educação. Em países da América Latina e mesmo Portugal e Espanha, o sistema de ensino tende a excluir aqueles que considera incapazes de aprender, o que gera percentuais relativamente altos de jovens entre 25 e 34 anos que não concluíram o Ensino Médio. No Brasil, eles representam cerca de 30% das mulheres e 40% dos homens. Em Portugal, 20% das mulheres e quase 40% dos homens. Os homens são a maioria dos que não concluíram o Ensino Médio na América Latina e isso leva a uma série de problemas, pois com a automação muitos postos de trabalho na indústria de transporte tendem a acabar. Em contrapartida, postos em setores como serviços, cuidado na terceira idade, saúde e bem-estar, ocupados principalmente por mulheres, não estão tão severamente ameaçados pela automação.

Excluir não gera bons resultados
Excluir largas parcelas da população da escola dificilmente gera bons resultados em avaliações internacionais ou em termos de desenvolvimento social, humano e tecnológico. Colégios e universidades federais, escolas militares e outras instituições que realizam provas concorridas para o ingresso realmente têm desempenho melhor em avaliações. No entanto, as provas de ingresso deixam de fora quem tem mais dificuldade.

Os números brasileiros, quando comparados aos de outros países da OCDE (o salário inicial dos professores brasileiros está entre os menores entre as nações de alta e média renda), mostra que o Brasil desiste rápido de seus jovens e dá poucas oportunidades a quem consegue permanecer na escola, apesar das dificuldades econômicas de suas famílias.

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