Pandemia e volta às aulas: quais as percepções dos professores?
21 de outubro de 2020
Após meses de escolas fechadas por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a volta às aulas presenciais já aconteceu em algumas cidades do Brasil. Mesmo assim, a maioria dos estudantes não sabe quando vai retomar, uma vez que cerca de 60% dos municípios ainda não têm planos.
A princípio, segundo um levantamento do Instituto Península, feito com mais de 3.800 docentes de todo o país, a pandemia mudou a realidade e a visão dos brasileiros sobre o futuro da educação. Dividida em quatro fases, cada uma buscou evidenciar os sentimentos e preocupações dos educadores brasileiros diante dos desdobramentos da pandemia. Nesse sentido, dentre as diversas constatações, o estudo mapeia a saúde mental do professor, suas preocupações com o agora e com o futuro.
Volta às aulas e a saúde mental do professor
Em relação à retomada, em uma escala de 0 a 5, na qual 0 indicava “nada confortável” e 5 “muito confortável” com o retorno ao ensino presencial, a média dos educadores que respondeu foi de 1,07. Resultado relacionado ao cenário de incertezas. A falta condições sanitárias adequadas nas escolas é o que mais preocupa os docentes (86% deles).
A terceira e última fase já apurada da pesquisa, apontou que os professores continuam se sentindo ansiosos. No período anterior, apenas 32% se sentiam sobrecarregados, agora são 53%. Uma coisa mudou, a maior preocupação do professor está relacionada a saúde mental de seus alunos. No período anterior, a maior preocupação era em relação a saúde de seus familiares.
Como professores, muitos sentem a pressão de ter pessoas que dependem de que façam o melhor trabalho. A turma, os pais e responsáveis, outros funcionários da escola e a comunidade criam pressões diferentes que, durante a crise do Covid-19, foi sentida de forma ainda mais intensa. É preciso lembrá-los de que não estão sozinhos e criar recursos para ajudá-los.
Segundo a pesquisa, 50% dos educadores brasileiros têm buscado apoio na família, em filmes/séries e no estudo para desenvolvimento profissional e/ou pessoal. Tais dados só reforçam a clara necessidade de pensar a saúde mental do professor como uma das prioridades da volta às aulas presenciais.
Valorização da profissão
Entre os maiores desafios apontados pelos docentes com o ensino remoto, figuram, respectivamente:
- A falta de conhecimento de recursos de acessibilidade;
- O lado emocional;
- Lidar com pais familiares e/ou cuidadores(as);
- A falta de um ambiente adequado para trabalhar em casa;
- Escassez conhecimento de ferramentas virtuais;
- Assim como a falta de formação para lidar com os desafios do ensino remoto;
- O distanciamento e perda de vínculo com os(as) alunos(as);
- Por fim, a dificuldade para manter o engajamento dos alunos(as).
Apesar desse cenário, dados interessantes foram mapeados pela pesquisa. Boa parte deixou de ver a tecnologia como um problema e passou a tê-la como aliada da aprendizagem e como impulso pessoal. Ao mesmo tempo, 72% dos professores tiveram uma percepção de valorização da sua carreira pela sociedade.
Suporte para educadores e escolas
É difícil compreender o ritmo e a escala das mudanças experimentadas nos últimos meses. Vivemos tempos sem precedentes e os professores têm feito um trabalho incrível de adaptação aos muitos desafios que a pandemia apresenta. Sentirem-se valorizados perante a sociedade é um reconhecimento merecido, mas não deve parar por aí.
Os impactos sociais, emocionais e financeiros desta pandemia já atingiram duramente muitas escolas e há um longo caminho até a recuperação. Em contrapartida, é preciso seguir trabalhando e aproveitar o apoio dado pela comunidade, fortalecido pelas adversidades, para explorar mais maneiras de envolvê-la no dia a dia escolar durante essa volta às aulas presenciais atípica.
Nesse sentido, as evidências mostram que a abordagem mais eficaz para a prevenção e promoção da saúde mental é aquela que envolve toda a comunidade de aprendizagem – incluindo líderes, educadores, alunos, famílias e a comunidade local.
Fonte: Sentimento E Percepção Dos Professores Brasileiros Nos Diferentes Estágios Do Coronavírus No Brasil.