Novo Ensino Médio: linguagens em conexão

22 de abril de 2021


O novo Ensino Médio, organizado por áreas do conhecimento, propõe em Linguagens e suas Tecnologias o agrupamento das disciplinas Artes – artes visuais, teatro, música e dança -, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Educação Física. Que sentido de linguagem se está tomando para a criação desse agrupamento que integra áreas de conhecimento tão específicas? Podemos começar deixando claro que não vamos defender nem argumentar a noção de linguagem somente como sinônimo de língua, ou seja, como sinônimo de linguagem verbal falada ou escrita, correspondendo aqui às línguas portuguesa e inglesa. De maneira mais generosa e expandida, entendemos como linguagem todos os modos de organização de signos capazes de significar e serem interpretados. Sob esse prisma, as artes visuais, o teatro, a dança e a música certamente são linguagens, assim como a linguagem corporal no contexto esportivo. 

Linguagem segundo Peirce

A moldura da teoria dos signos do filósofo Charles Sanders Peirce é que dá suporte para essa noção de linguagem, visto que a sua semiótica não se reduz à noção de signo como língua, no seu sentido padrão. Para Peirce, o termo “signo” pode ser tomado como sinônimo de linguagem. Isso nos fornece flexibilidade e multifacetadas possibilidades sígnicas que têm sua própria autonomia, sem precisarem submeter-se ao modelo da língua para serem consideradas linguagens.

Evidentemente, cada um desses sistemas funciona de um jeito, de maneira mais regrada, convencional ou criativa. Para compreendê-los como linguagem, temos que penetrar em seus universos específicos a fim de conhecer modos de agir que os capacitam a serem interpretados. Uma vez que estamos falando da área do conhecimento Linguagens e suas Tecnologias para o novo Ensino Médio, é preciso constatar, sem que paire qualquer dúvida, que Artes – artes visuais, teatro, música e dança –, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Educação Física são disciplinas que operam linguagens no sentido semiótico do termo.

O Novo Ensino Médio e o trabalho com Projetos Integradores

Comecemos, a partir disso, a olhar o ensino e a aprendizagem dessas linguagens em conexão, ou seja, de uma maneira menos fragmentada por meio do trabalho com projetos. Tomando esse rumo, os Projetos Integradores para a área de Linguagens e suas Tecnologias no Ensino Médio:

  • Não são uma disciplina, e sim a interação entre duas ou mais disciplinas. Não são conteúdos gramaticais, estéticos, corporais para memorizar, e sim a investigação de uma ideia, de um tema;
  • Não são uma sequência de atividades, e sim diferentes caminhos de acesso ao conhecimento;
  • Não são só a fala do professor, porque sem a fala do estudante não há projeto;
  • Não devem ser acompanhados em silêncio na sala de aula, mas se deve abrir espaço para dialogar, discutir, trocar, criar;
  • Não são momentos para dar respostas prontas, e sim para se fazer muitas perguntas;
  • Não são certezas de concepções prévias, e sim incertezas de frutíferas dúvidas;
  • Não são o aceitar um único ponto de vista, e sim o argumentar a partir do seu ponto de vista;
  • Não são fazer por fazer, e sim refletir sobre o que se faz e compartilhar isso;
  • Não são para ficar trancado em sala de aula, e sim para pesquisar também fora dela;
  • Não se faz projeto sozinho. Em grupo e com a comunidade é muito melhor;
  • Tudo começa com uma pergunta; a resposta é encontrada no processo de fazer o projeto.

Hoje temos inúmeras formas de ensinar e aprender. É urgente trazermos à superfície propostas que forjem tempos e espaços diferenciados do modelo tradicional de educação para o Ensino Médio. Essa é a aposta!

revista Arco 43

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