Celular na escola: avanço ou retrocesso? O que dizem professores e pesquisas
14 de março de 2025
O debate sobre a presença do celular na escola nunca esteve tão intenso. De um lado, defensores da proibição argumentam que a remoção dos dispositivos das salas de aula melhora a concentração dos alunos, reduz a distração e fortalece a socialização. Do outro, há quem veja na tecnologia uma oportunidade pedagógica, capaz de enriquecer as práticas educativas e conectar os estudantes com o aprendizado de modo dinâmico.
No Brasil, a discussão ganhou força com a lei que restringe o uso de celulares em escolas públicas e privadas de todo o país. Mas essa decisão está alinhada às melhores práticas educacionais internacionais? E como professores, que lidam diariamente com esse desafio, enxergam essa mudança?
Neste texto, vamos explorar os impactos dessa proibição, trazendo depoimentos de educadores e analisando como outras nações lidam com o uso do celular na escola.
O que a nova lei diz sobre a proibição de celular na escola?
A Lei nº 15.100/2025, sancionada em janeiro deste ano, determina que estudantes do Ensino Fundamental e Médio não podem usar o celular dentro da sala de aula, exceto quando o dispositivo for solicitado pelo professor para atividades pedagógicas.
O objetivo da medida é garantir um ambiente mais focado no aprendizado, já que diversos estudos indicam que a presença do celular pode prejudicar a concentração e o desempenho escolar. Por outro lado, especialistas alertam que apenas proibir o aparelho não basta. É necessário ensinar a crianças e jovens o uso responsável da tecnologia e preparar os professores para integrar as ferramentas digitais ao ensino de maneira planejada.
O cenário internacional: quais países já proibiram o uso de celulares na escola?
A preocupação com os efeitos do uso do celular na escola não é exclusiva do Brasil. Segundo a UNESCO, aproximadamente 25% dos países do mundo já adotaram leis restringindo o uso de celulares nas escolas. Entre as nações que implementaram essa medida estão:
- França: proibiu o uso de celulares por alunos com menos de 15 anos desde 2018, inclusive no recreio.
- Espanha, Grécia e Dinamarca: permitem que os alunos levem celulares para a escola, mas exigem que os aparelhos fiquem guardados durante as aulas.
- Finlândia, Holanda, Itália, Suíça e México: anunciaram a proibição do uso de celulares em sala de aula nos últimos anos.
- Estados Unidos, Portugal, Escócia e Canadá: apresentam restrições parciais ou totais em algumas regiões.
Embora as políticas variem, a tendência global indica esforços para equilibrar o uso do celular na escola. Inclusive, o relatório da Unesco destaca que a proximidade do celular pode prejudicar a concentração dos alunos, mas também reconhece que a tecnologia, quando utilizada de maneira equilibrada, pode ser uma ferramenta valiosa para a educação.
O impacto da proibição sobre a prática: o que dizem os professores?
Para entender os efeitos reais da restrição do celular, ouvimos professores que enfrentam esse desafio diariamente. Eles compartilham como era a rotina antes da proibição, o que mudou após a restrição e como a tecnologia ainda pode ser utilizada de modo pedagógico.
Antes da proibição: distração e queda na concentração
Segundo Gustavo Martello Batista, professor de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio do Colégio Espírito Santo, o uso constante do celular em sala de aula prejudicava a dinâmica pedagógica.
“Até o ano de 2024, a rotina dos educadores era marcada por um desafio constante em relação aos dispositivos eletrônicos portados pelos alunos, visto que a construção do conhecimento e a dinâmica das atividades pedagógicas muitas vezes acabavam prejudicadas pela distração e perda de foco dos estudantes.”
Ele destaca que os celulares geravam uma competição desigual pela atenção dos alunos:
“É praticamente impossível – para qualquer pessoa – manter uma postura concentrada enquanto as notificações aparecem constantemente na tela de seu aparelho celular, feito um verdadeiro ‘bombardeio’ de estímulos.”
Os efeitos não eram apenas acadêmicos. A superexposição ao celular também impactava a saúde mental dos estudantes, aumentando os níveis de ansiedade e alterando padrões de sono.
Após a proibição: mais foco e interação social
Desde que a proibição entrou em vigor, os professores já percebem mudanças no comportamento dos alunos. Segundo Diego Moreira, professor de Matemática do Colégio Stella Matutina, a ausência dos celulares trouxe consequências positivas para a socialização:
“O maior impacto que observo é a participação ativa de alguns estudantes que antes estavam apáticos no seu desenvolvimento, interagindo melhor não apenas na relação professor-aluno, mas também entre os próprios estudantes, principalmente nos intervalos. Antes, ficavam isolados no celular, agora estão correndo e criando brincadeiras na quadra da escola.”
Já Bruno Reis, professor de História e Coordenador de Tecnologias Educacionais do Colégio Sagrado Coração de Jesus, reconhece os benefícios da restrição, mas pondera:
“Essa proibição também me levou a refletir sobre o potencial do celular como ferramenta educacional. Quando utilizado com intencionalidade pedagógica e de forma direcionada, ele pode ser um grande aliado no aprendizado. Atividades interativas, pesquisas guiadas e o uso de aplicativos educativos demonstram que a tecnologia pode enriquecer as aulas e despertar o interesse dos alunos.”
Isso nos leva a outro ponto crucial: a tecnologia pode ser proibida o tempo todo ou é possível equilibrar seu uso na educação?
Celular na escola: proibir ou ensinar o uso responsável?
A professora Victoria Vizintim Galves Tenório, da rede estadual de São Paulo, traz uma visão crítica sobre a maneira como a lei tem sido aplicada em algumas escolas:
“A lei da proibição dos celulares era algo que há muito tempo os professores já esperavam, porém ela foi feita com muitas brechas. Mesmo permitindo o uso pedagógico em alguns momentos, existem escolas que estão proibindo o uso em 100% do tempo.”
Ela também aponta que a responsabilidade de garantir o cumprimento da regra tem recaído, muitas vezes, sobre os professores:
“Existem gestões escolares que não querem se comprometer com as punições aos alunos que continuam utilizando os celulares, e com isso acabam deixando nas costas dos professores, que se desgastam o tempo todo entrando em debate com os alunos que não querem obedecer a lei.”
Isso levanta um questionamento importante: a proibição isolada resolve o problema ou é necessário um plano mais amplo de educação digital?
Qual é o caminho ideal?
O debate sobre o uso do celular na escola vai além de proibir ou liberar o dispositivo. O desafio está em encontrar um equilíbrio entre evitar distrações e utilizar a tecnologia de maneira produtiva.
O que podemos aprender com a experiência internacional é que medidas restritivas podem ajudar na concentração e interação social, mas a chave para um ensino mais eficiente está na educação para o uso responsável da tecnologia.
A escola deve preparar os alunos para um mundo digital, ensinando-os a utilizar o celular como ferramenta de aprendizado, e não apenas como distração. Para isso, é essencial que políticas educacionais contemplem a restrição e também a formação digital de professores e estudantes.
Afinal, o celular pode ser um vilão, mas também pode se tornar um grande aliado da educação, desde que usado com propósito em sala de aula.
E você, o que pensa sobre o uso de celular na escola?
O debate sobre a proibição de celulares na escola está longe de ser encerrado. Enquanto alguns professores percebem benefícios na restrição, outros defendem que a tecnologia, quando for bem utilizada, pode ser uma aliada da educação.
E na sua escola, como essa questão tem sido enfrentada? Queremos ouvir sua opinião!
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