O eu, o outro e o nós: como aplicar o 1º Campo de Experiência na sua sala de aula?
26 de dezembro de 2025
Em poucas palavras: este é o primeiro texto da nossa série especial sobre os Campos de Experiência da BNCC. Aqui, explicamos o que é o Campo “O eu, o outro e o nós”, por que ele é estruturante para o desenvolvimento infantil e como transformá-lo em práticas reais na Educação Infantil.
Você já conhece esse campo. Mas como colocá-lo em prática?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já faz parte da rotina da Educação Infantil desde 2017, mas isso não significa que todas as suas propostas se traduzam automaticamente em caminhos claros para o dia a dia. É justamente nesse ponto que começamos esta série: olhando para temas que são conhecidos, mas que ainda geram dúvidas quando pensamos no planejamento real, nas interações concretas e no tempo vivo da sala de Educação Infantil.
O Campo de Experiência “O Eu, o Outro e o Nós” é talvez o mais transversal de todos. Ele aparece em cada momento de cuidado, em qualquer roda de conversa improvisada, na forma como as crianças resolvem conflitos, expressam desejos ou descobrem seu lugar no grupo.
Como destaca o Movimento Pela Base, planejar por campos significa colocar a criança no centro, considerando seus ritmos, vínculos, interesses e linguagens. É um convite a observar mais, escutar melhor e transformar cada situação cotidiana em uma experiência educativa significativa.
O que caracteriza o campo de experiência “O eu, o outro e o nós”?
O Campo reúne três dimensões que estruturam o desenvolvimento infantil: identidade, convivência e pertencimento. Na prática, isso aparece em gestos aparentemente simples: quando a criança se reconhece no espelho, quando nomeia emoções, quando tenta resolver um conflito com um colega, quando participa de uma brincadeira de faz de conta ou quando começa a entender que faz parte de um grupo.
Identidade e autoconhecimento
A criança explora seu corpo, suas sensações e emoções. Aprende a dizer o que quer, o que teme e o que deseja. Começa a perceber seu ritmo e o que já é capaz de fazer sozinha. Esse processo não acontece apenas no momento da roda ou da atividade planejada. Ele surge no banho de sol, na alimentação, nas travessias entre um espaço e outro, nas investigações espontâneas.
Empatia e relações com o outro
É convivendo que a criança aprende a esperar, a discordar, a negociar, a cuidar, a reparar, a pedir desculpas e a ser acolhida. Esse campo orienta o professor a mediar essas situações com sensibilidade, transformando conflitos em oportunidades para ampliar repertório emocional e social.
Pertencimento e construção do “nós”
Aqui entram as experiências culturais, as tradições familiares, o reconhecimento das diferenças e o respeito por modos de viver diversos. O “nós” começa pequeno, dentro da própria turma, mas se expande para o território, a comunidade e as histórias que cada família traz.
Como esse campo aparece no cotidiano da sala?
As situações que formam esse campo de experiência já estão acontecendo. O papel do professor é dar forma e intenção a elas.
Acolhimento como prática pedagógica
O início do dia é um dos momentos mais potentes. O modo como o professor recebe cada criança comunica segurança, pertencimento e convite à participação. Um olhar atento, uma nomeação de emoção ou uma conversa breve ajudam a criança a organizar-se e entrar no ritmo do grupo.
Rotinas como experiências educativas
Cada transição tem valor formativo: lavar as mãos, guardar brinquedos, organizar a sala, sentar no tapete, esperar a vez. Quando o professor explica o que está acontecendo, dá pistas do que vem a seguir e envolve as crianças nesse processo, ele fortalece autonomia e previsibilidade.
Ambientes que favorecem escolhas
Espaços organizados em cantos convidam à interação, à comunicação e ao jogo simbólico. Espelhos ajudam na construção da imagem corporal. Almofadas, livros e objetos de faz de conta ampliam a imaginação e criam contextos nos quais as crianças conversam, imitam e inventam histórias.
Conflitos como oportunidades
Em vez de interromper bruscamente a disputa, a mediação respeitosa transforma esse instante em aprendizagem. Perguntas como “o que aconteceu?”, “como podemos resolver juntos?” e “tem outra maneira de brincar?” ajudam a criança a desenvolver a linguagem, a pensar no outro e a compreender consequências.
Histórias, músicas e conversas que ampliam repertórios
Narrativas compartilhadas, músicas trazidas pelas famílias, fotos do cotidiano, objetos culturais e conversas espontâneas criam pontes entre mundos. A criança se reconhece nessas histórias e reconhece o outro. É aqui que o pertencimento floresce.
Como planejar com intencionalidade?
O professor não precisa criar projetos artificiais para atender a esse campo de experiência. Basta olhar para o cotidiano com mais precisão pedagógica.
- Observar: o que as crianças expressam por gestos, falas, silêncios ou escolhas?
- Registrar: quando surgem situações que revelam identidades, conflitos, curiosidades?
- Devolver: como trazer esses momentos para a roda? O que pode virar projeto?
- Ajustar espaços: o ambiente ajuda ou dificulta a autonomia?
- Replanejar: o que funcionou? O que precisa ser reorganizado?
Esse movimento contínuo fortalece a prática e dá profundidade ao trabalho com esse campo de experiência.
Materiais que podem apoiar esse processo
Na Editora do Brasil, há diversos materiais que dialogam com os campos de experiência da Educação Infantil, e podem apoiar formações, estudos e planejamento. Eles estão disponíveis na nossa loja virtual, onde é possível explorar obras voltadas ao segmento, sempre alinhadas à BNCC e às práticas cotidianas da creche e da pré-escola.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que é o Campo de Experiência “O eu, o outro e o nós”?
É o campo da BNCC que orienta vivências relacionadas à identidade, vínculos afetivos, convivência, respeito às diferenças e construção do pertencimento.
Como trabalhar esse campo com bebês?
Por meio de interações afetivas, nomeação de emoções, descobertas corporais, brincadeiras simples e cuidados diários realizados com intencionalidade.
Quais atividades favorecem empatia e convivência?
Rodas de conversa, jogos cooperativos, projetos com fotos de família, dramatizações, cuidados compartilhados e situações de resolução de conflitos acompanhadas pelo professor.
Como avaliar aprendizagens desse campo?
Observando atitudes no cotidiano: expressão de sentimentos, autonomia, iniciativa, resolução de pequenos conflitos, capacidade de escuta e participação no grupo.
Esse campo se integra aos outros da BNCC?
Sim. Experiências de identidade e convivência atravessam corpo, linguagem, arte e exploração do mundo, compondo uma visão integrada do desenvolvimento infantil.
Quais materiais podem enriquecer esse trabalho?
Livros literários, fotos da comunidade, brinquedos simból

