Ainda Estou Aqui: como trabalhar o filme em sala de aula e discutir a História do Brasil?
6 de março de 2025
O cinema brasileiro fez história. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional. O reconhecimento global de uma obra que retrata um dos períodos mais sombrios da História brasileira traz não apenas orgulho para o audiovisual nacional, como também um convite à reflexão. Como discutir, em sala de aula, os temas abordados pelo filme? Como usá-lo como ferramenta para ensinar sobre o que era a ditadura militar e sua repercussão na democracia atual?
Por que ensinar História por meio do cinema?
Em um mundo saturado por informações e reinterpretações dos acontecimentos históricos, o ensino de história enfrenta desafios cada vez maiores. A formação do pensamento crítico requer que os alunos não apenas absorvam fatos, como também os analisem de maneira contextualizada. Ao articular narrativa e emoção, o cinema pode ajudar nesse processo ao proporcionar uma experiência imersiva e sensorial.
Ainda Estou Aqui cumpre esse papel ao trazer à tona a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e de sua luta pela verdade sobre o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar. A obra revisita esse período autoritário, mas de um modo bem diferente: a história de uma família. De maneira muito delicada e íntegra, o filme provoca reflexões sobre como as cicatrizes desse tempo seguem visíveis no Brasil contemporâneo.
A ditadura militar (1964-1985) marcou o país com censura, perseguições políticas e restrições à liberdade de expressão. Muitos alunos, no entanto, têm pouco contato com esse tema fora do ambiente escolar. O filme surge como possibilidade de recurso didático que garante contextualizar o período de maneira acessível, conectando-o com discussões sobre os direitos humanos e os desafios da democracia.
O impacto da obra também se reflete na sua trilha sonora, composta por músicas emblemáticas da época. Esse elemento pode ser um ponto de partida para atividades interdisciplinares, explorando o papel da arte como resistência cultural.
Atividades para trabalhar Ainda Estou Aqui em sala de aula
Antes de exibir o filme, é essencial contextualizar os alunos sobre o que foi a ditadura militar no Brasil. Muitos estudantes têm contato superficial com o tema, o que pode limitar a compreensão da obra. Para isso, sugerimos:
- Mapas conceituais – Criar um painel visual destacando os principais aspectos do período, como repressão, censura, desaparecimentos políticos e resistência cultural.
- Linha do tempo interativa – Dividir os alunos em grupos para pesquisarem momentos-chave da ditadura e apresentarem suas descobertas para a turma.
- Comparação com outros regimes – Relacionar o caso brasileiro com outras ditaduras latino-americanas, ampliando a visão dos estudantes sobre o assunto.
A seguir, selecionamos algumas abordagens que ajudam a explorar Ainda Estou Aqui no contexto escolar, conectando o filme com discussões importantes sobre História, política e cidadania.
1. Debate sobre memória e verdade histórica
Objetivo: discutir a importância da memória e do resgate histórico para a construção da democracia.
Atividade: após a exibição do filme, divida a turma em grupos e peça que cada um deles analise um aspecto da ditadura militar, como censura, repressão política, resistência e impacto na sociedade atual. Em seguida, promova um debate sobre a importância de se preservar a verdade histórica.
2. Análise crítica das representações cinematográficas sobre a ditadura
Objetivo: comparar a obra com outras produções e analisar diferentes abordagens sobre o tema.
Atividade: apresente trechos de outros filmes sobre História do Brasil, como O Que É Isso, Companheiro? (1997) e Batismo de Sangue (2007). Peça aos alunos que analisem como a ditadura é retratada em cada obra e quais elementos narrativos e estéticos são utilizados para reproduzir a atmosfera do período.
3. Produção textual: narrativa histórica e relatos de resistência
Objetivo: desenvolver a escrita crítica e argumentativa dos alunos.
Atividade: como tema para produção de texto, proponha que os alunos escrevam um relato fictício de um personagem que viveu na época da ditadura, utilizando fatos como pano de fundo. Alternativamente, eles podem produzir um ensaio argumentativo sobre o impacto da ditadura na sociedade atual.
4. Investigação histórica: construindo um dossiê sobre a ditadura
Objetivo: estimular a pesquisa e a análise de documentos históricos.
Atividade: peça aos alunos que pesquisem documentos da Comissão Nacional da Verdade, trechos de jornais da época e depoimentos de vítimas da repressão. Com base nessa pesquisa, eles devem montar um dossiê histórico sobre a ditadura, abordando aspectos como censura, desaparecimentos políticos e resistência cultural.
5. Leitura crítica da narrativa cinematográfica
Objetivo: desenvolver habilidades de análise crítica, relacionando elementos cinematográficos com interpretação histórica.
Atividade: após a exibição do filme, proponha uma análise que vá além de sua trama principal – e que, quem sabe, renda algumas atividades de produção textual. Alguns aspectos para discussão incluem:
- Construção da protagonista – Como Eunice Paiva é retratada? De que maneira sua jornada pessoal reflete a resistência coletiva?
- Uso de imagens de arquivo – O filme intercala cenas ficcionais com registros reais. Como isso contribui para sua autenticidade?
- A trilha sonora como instrumento de resistência – A música foi uma das formas de protesto durante a ditadura. Quais canções aparecem no filme? Qual é seu papel na narrativa?
Expandindo o aprendizado com leituras complementares
Além do cinema, a leitura pode aprofundar a compreensão histórica sobre o país. A Editora do Brasil disponibiliza títulos que podem ser incorporados ao ensino do assunto, ajudando a enriquecer a abordagem dos professores.
Brasília: uma viagem no tempo
Um convite para conhecer a história da construção de Brasília e entender o contexto político do Brasil na segunda metade do século XX.
Um toque de mestre
Narrativa envolvente que traz reflexões sobre identidade, memória e construção histórica, essenciais para a compreensão dos impactos do passado sobre o presente.
História em curso – Volume único
Um livro que apresenta a História de maneira integrada, relacionando teoria e prática e incentivando os alunos a perceberem como acontecimentos passados influenciam a sociedade atual.
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