Boas práticas: Os desafios da Educação Infantil a distância
30 de junho de 2020
Em 2001, o educador americano Marc Prensky cunhou o termo nativo digital para se referir à geração de crianças que, desde o nascimento, já está inserida no meio digital. Não é difícil, por exemplo, encontrarmos os pequenos nas redes sociais, postando vídeos onde interagem com internautas e realizando tantas outras ações que até mesmo representam certa dificuldade para os mais velhos, menos habituados. Mas, será que isso é suficiente para garantir, em tempos tão turbulentos, uma boa Educação Infantil a distância?
A questão da obrigatoriedade
A Educação Infantil abrange o ensino de crianças de zero a cinco anos, tanto nas creches (zero a três anos) quanto na pré-escola (quatro e cinco anos). Por anos, essa etapa do ensino não era considerada obrigatória, sendo que o estudante poderia ingressar diretamente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Isso só mudou em 2009, quando uma emenda constitucional tornou a pré-escola obrigatória. A etapa da creche, por outro lado, ainda é opcional.
Essa realidade faz com que a Educação Infantil, sobre todos os aspectos as da rede privada, sejam talvez, o ramo da educação que mais sofre com a situação de pandemia.
Isso porque a COVID-19 afeta a todos: se as instituições de ensino estão se reinventando para manter seu alunato, boa parte disso se dá às transformações que as próprias famílias estão enfrentando: redução de salário, afastamento temporário e demissões possuem impacto direto na decisão de manter ou não o filho matriculado e pagando as mensalidades em dia.
No caso das creches, o rompimento de contrato parece ser a primeira opção considerada pelos pais como forma de conter os gastos familiares – afinal de contas, não é obrigatório. A Educação Infantil também se vê na corda bamba, buscando negociações boas para ambas as partes a fim de evitar a transferência de seus alunos.
Educação infantil a distância: relação construída na presença
Ciente do cenário delicado, o Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo (SP), busca uma abordagem mais intimista, que tem demonstrado frutos positivos e merece atenção. Segundo a coordenadora de Educação Infantil da instituição, a professora Rosana Marin, a “relação se constrói na presença” – essa é a base da Educação Infantil a distância.
“A relação se constrói na presença, portanto, sabíamos que precisaríamos continuar sendo presença efetiva e valiosa, a cada dia, para cada criança e sua família, para mantermos a importância e a confiança já estabelecidas até então”, comenta Rosana. É preciso que gestores, em parceria com os professores, se mobilizem para que essa presença demonstre o comprometimento da escola com a criança. Isso torna a educação um gasto essencial, ainda que em momento de crise.
Naturalmente, existem várias formas de traçar planos para que a Educação Infantil, sejam as creches ou a pré-escola, sobrevivam de maneira menos turbulenta durante a crise. Rosana conta que, no Arquidiocesano, houve o aumento do “tempo das aulas por meio do computador; modificando o formato; agregando as crianças também em pequenos grupos, além dos momentos de grupo todo; propondo videoconferências individuais, ampliando a escuta à família, que de modo geral, estava ansiosa tanto pela preocupação desse distanciamento das crianças ao universo escolar.”.
Todas essas as ações adotadas pelo Colégio Marista Arquidiocesano aproximam a criança e a família da rotina escolar, e, assim, criam a sensação de pertencimento. Rosana lembra que “nesses contatos, ouvimos e orientamos cada família, além de propormos uma interação individualizada à criança, momento em que ela vivencia a atenção da professora exclusivamente para ela, algo que lhe desperta interesse e alegria”. Amparar essas necessidades, cabíveis à escola, é também essencial para manter boas relações em tempos de crise e aulas a distância: o que meu filho vai desenvolver a distância? Como ele vai aprender? A falta de contato com outras crianças irá atrapalhar o desenvolvimento do meu filho? – essas e outras questões que podem surgir por parte das famílias devem ser claramente respondidas para que a relação de confiança seja construída.