Convivência da família na era das redes sociais

2 de dezembro de 2019

“Tanto pais quanto filhos têm a percepção de que o mundo digital distância uns dos outros.”

 

Outro dia li uma charge na qual estava retratada uma tradicional família sentada na sala de estar. Pai, mãe e filhos estavam teclando seus smartphones, com os olhos grudados neles. Havia um balão de fala sobre o pai, que dizia: “Como é bom esse nosso momento de convivência familiar!”.

Considerei a charge muito interessante porque o chargista provocou-me com sua crítica e fez-me pensar na profundidade dos relacionamentos que são estabelecidos no seio das famílias e na interferência que as novas tecnologias podem exercer nessas relações.

Pesquisas recentes revelam que a maioria das crianças e dos adolescentes dizia que seus pais sempre estavam distraídos com o celular e não os escutava com atenção. Retratam também que, quando os pais estão mais disponíveis, são os filhos que, conectados, permanecem desatentos à situação.

Eis a provocação inspirada pelo chargista: será que o universo digital pode distanciar e provocar conflitos nas relações familiares?

Vamos pensar nisto: ao observarmos o dia a dia de familiares, podemos perceber que muitas vezes pais e mães comportam-se como “ausentes presentes”. Ou seja, o corpo está presente, mas a atenção está bem longe daquele contexto. Apesar de estarem lado a lado, não há comunicação.

Isso acontece porque os smartphones, na grande maioria das vezes, prolongam a jornada de trabalho de pais e mães e os colocam dentro da rotina e do ambiente de trabalho, apesar de já estarem em seus lares ao lado dos seus. Ou então, são as redes sociais que “chamam” a uma participação constante para cliques e curtidas. Quando não, são os “infernais” grupos de conversas que trazem alguma postagem, solicitando respostas e opiniões.

Isso é positivo, sem dúvida, pois a comunicação digital facilitou sobremaneira a vida moderna. Porém, ela também nos impõe o seu preço, pois para a construção de fortes e profundos laços familiares são necessários momentos de verdadeira convivência familiar, que consequentemente está sujeita a uma sincronização de tempo disponível de seus membros para tal finalidade.

Muitos pais afirmam que seus filhos adolescentes preferem ficar on-line a conversar com eles. Reiteram que são escassas as conversas olho no olho e que o importante diálogo entre pais e filhos está sendo substituído por emojis ou curtidas. Outros falaram que nem isso é possível, já que não tem amizade com seus filhos em redes sociais para que seus filhos não fiquem constrangidos.

Um dado preocupante é que tanto pais quanto filhos têm a percepção de que o mundo digital distancia uns dos outros.  Este é o desafio desses tempos para as famílias: como conviver e estabelecer vínculos familiares se os membros da família estão on-line, permanentemente conectados a outros contextos e desconectados do convívio familiar?

Minha dica é muito simples: organizar uma agenda para que em um momento do dia todos fiquem off line e se conectem ao mundo real, conversem, discutam, enfim, interessem-se uns pelos outros e presenteiem-se com atenção. Dê e receba atenção dos membros de sua família por algumas horas diárias. Faça o teste, a recompensa é surpreendente.

 

Francisca Romana Giacometti Paris é pedagoga e mestra em Educação.

 

 

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