Corporeidade – quando o corpo fala (e escuta)
31 de maio de 2021
Para apresentar o livro seis da coleção InterAção Linguagens, iniciaremos com uma afirmação: somos seres corporais. Falamos porque temos língua, pensamos porque temos cérebro, escrevemos porque temos mãos e, em alguns casos, pés. Pois bem, língua, cérebro, mãos e pés são partes do corpo, são órgãos corporais. Logo, existimos e estamos aqui conversando, estudando, refletindo e respirando porque somos seres corporais. Mas temos corpo ou somos corpo? Intitulado “Corporeidade: somos corpos ou temos corpos?”, o volume apresenta diferentes contextos, situações e temas nos quais o corpo é (ou pode ser) protagonista do processo de linguagem e condição para a nossa existência. Durante todo o livro, o (a) estudante vai, paulatinamente, respondendo à questão sobre sermos corpo, termos corpo ou ambos.
O Novo Ensino Médio apresentará disciplinas de forma integrada, alocadas em áreas. Na área de Linguagens, os componentes curriculares de Artes (compreendendo artes visuais, teatro, música e dança), Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Educação Física (jogos, lutas, brincadeiras, práticas corporais de aventura, danças, ginásticas e esportes) tratarão, juntos, de diferentes temas e conteúdos, de forma inter ou transdisciplinar. Neste formato, este livro apresenta, de forma ampla, interativa e flexível, caminhos e procedimentos pedagógicos diversos, capazes de mostrar ao professor(a) como ensinar interdisciplinarmente, tendo o aluno como sujeito ativo de seu processo de aprendizado.
O livro também permite utilizar e criar estratégias para que o(a) estudante reconheça e utilize seus talentos e capacidades/habilidades, lide positivamente com as suas dificuldades, se aproprie de conhecimentos que a instituição escolar vem produzindo há séculos e, assim, consiga se posicionar em relação a temáticas que surgem freneticamente na atualidade em que vivemos.
Corporeidade a partir da tríade Corpo – Cultura – Movimento
Durante todo este livro, ao tentar responder aos questionamentos pontuais ou à questão geradora do livro sobre corporeidade, por meio de processos didáticos que culminam em produções autorais, o(a) estudante se vê convidado a buscar conhecimentos prévios, a empreender novas formas de aprendizado e a pesquisar temas e conteúdos desconhecidos, tendo a mediação docente e o conteúdo escolar como diretrizes. Para que este processo de aprendizado ocorra, trabalha-se a partir da tríade Corpo – Cultura – Movimento. Estes três temas estão mesclados ou justapostos e distribuídos ao longo das unidades, com mais ou menos ênfase em cada um deles, a depender do objetivo pedagógico a ser alcançado. Um exemplo deste processo didático pode ser observado no Percurso 3, da Unidade 3, no qual literatura e manifestações socioculturais (no caso, capoeira, samba, soneto, crônica e rap) foram instrumentos de leitura e/ou interpretação da estereotipia dos indivíduos retratados em obras literárias.
Ao assumir a corporeidade como forma de estar no mundo, ultrapassamos a dualidade corpo/mente e assumimos o indivíduo como ser composto por dimensões indivisíveis (físicas, mentais, espirituais). O contato com a multiplicidade desses corpos e expressões corporais presentes na literatura pode ampliar a capacidade de articulação entre discursos de naturezas diversas em relação ao corpo, suas potencialidades de movimento e de práticas corporais – aumentando sua capacidade em lidar com situações de dissenso e preconceito relativas a bens culturais e, inclusive, tecnológicos. Essa é uma das formas de exercitar a empatia, que é uma das faces das inteligências socioemocionais mais exigidas para que exerçamos também o humanismo. O desenvolvimento do senso crítico e empático a respeito de visões estereotipadas que podem se manifestar nas diversas linguagens corporais pode desconstruir preconceitos e abrir novas possibilidades de movimentação, fomentando uma visão mais ampla tanto sobre sociedade e movimento, quanto sobre representações dos corpos no mundo.
Corporeidade e tecnologia
E por falar em preconceito, corporeidade e tecnologia, no percurso 1, da unidade 3, os games são tema, a fim de que os(as) estudantes percebam e descubram que tanto o corpo como as produções corporais podem ser uma forma de linguagem direta ou subjetiva também em meios eletrônicos. A vivência e a compreensão do corpo e de suas possibilidades, transpondo limites da realidade virtual, podem despertar no estudante o desejo de relacionar profissões das áreas de Humanas ou Biológicas com profissões das áreas de Eletrônica ou Informática, tão promissoras no mundo contemporâneo.
Neste itinerário de descobertas sempre reflexivas, a unidade introdutória deste livro foi um caminho de revelação do que é esporte, jogo e jogos híbridos, por meio da questão norteadora intitulada “Jogar pra quê?”. Este itinerário foi antecedido pela reflexão sobre “Por que o corpo brinca?”, que é o título da unidade “Ponto de Partida”. Como podemos ver, uma discussão com este caminho de abordagem de conteúdos para se chegar a conhecimentos sobre um tema, é amparada pelo conteúdo escolar, reflexão, pesquisa e muita participação do estudante como sujeito social.
“A Linha de Chegada”, título da última unidade da obra, auxilia o(a) estudante na descoberta de profissões que tenham base na área de Linguagens e suas Tecnologias, inspiradas principalmente pelas temáticas aqui tratadas. Assim, esperamos ter mostrado como o corpo é também linguagem e, nesse sentido, esperamos também ter ilustrado caminhos a serem percorridos para que o estudante reconheça que somos habilidosos seres corporais e que, com estudo e dedicação, podemos nos tornar corporalmente cultos e cognitivamente múltiplos em nossas habilidades.
Mildred Sotero e equipe de Linguagens