Dia do Professor e os desafios da docência em tempos de pandemia
15 de outubro de 2020
Pela natureza de seu trabalho, os professores estão em uma posição não apenas de impactar profundamente os estudantes a quem ensinam, mas também de influenciar através das gerações. Nesse Dia do Professor, queremos lembrar que esse profissional faz algo que ninguém mais pode: ele cria, muda visões e inspira crianças e adolescentes a sonharem cada vez mais alto.
Em um mundo consumido por uma doença tão poderosa quanto o novo coronavírus (Covid-19), seguir crentes no papel da educação e ativos é mais do que motivo para lembrar o quanto esse profissional é essencial para a construção de uma sociedade melhor.
Vide a adoção do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 e da meta específica (ODS 4.c), que nos lembra a dimensão do trabalho de um educador. Datas como o Dia do Professor, são ocasiões perfeitas para, mais do que parabenizar, refletir sobre o progresso da profissão e maneiras de combater os desafios da prática docente.
Ser professor em tempos de pandemia
A pandemia aumentou significativamente os obstáculos enfrentados pelos sistemas de educação. Não é exagero dizer que o mundo está em uma encruzilhada. Agora, mais do que nunca, devemos trabalhar com os professores para proteger o direito à educação e apoiá-los rumo a novos horizontes. Isso significa, primeiramente, sentar-se para ouvir de verdade o que eles têm a dizer.
Segundo o professor de História, Gabriel Maion, o trabalho do professor durante a quarentena, com o ensino remoto, tem sido uma constante adequação a diversas demandas. “O mundo do trabalho invadiu o mundo doméstico. Por conta disso, acredito que estamos todos continuamente pensando, em algum nível, em como tornar esse período o mais produtivo e qualificado possível. Estamos sempre nos desdobrando, quebrando a cabeça para entender quais as ferramentas que podemos usar e de que formas as utilizar para tornar o processo de ensino-aprendizagem melhor”.
No entanto, exatamente por conta disso tem sido um período de muito cansaço. Para a professora Diana Ferreira, que leciona dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ao Ensino Médio em duas escolas públicas de São Paulo, os primeiros meses foram épocas muito conturbadas e a inserção das tecnologias demorou a ser assimilada.
“No começo da pandemia, quantas vezes deixei coisas básicas – por exemplo, comer – porque eu estava ali enfiada em uma ferramenta ou preparando alguma atividade. Acordava e dormia acessando as redes. Lidar com a inserção tecnológica requer bastante disciplina. Por outro lado, abriram-se universos de possibilidades e, na rede pública, ter essa diversidade possibilita chegar ao jovem e ter, minimamente, uma devolutiva deles”, comenta ela.
Quais foram as maiores dificuldades?
Para Gabriel, a maior dificuldade do trabalho em isolamento foi a falta de interação com os estudantes. Ou seja, a total perda da possibilidade de aprender juntos, uns com os outros, no dia a dia. “Eu acredito que a educação só acontece em seu pleno potencial quando os professores conseguem de fato interagir com as turmas e, mais ainda, quando os estudantes interagem entre si. E no modo online, seja síncrono ou assíncrono, essa interação se perdeu por completo”, aponta ele.
A tecnologia tem também reflexo direto na autocobrança dos educadores. “Trabalhamos intensamente para tentar editar uma videoaula da melhor forma possível, mas não somos editores de vídeo, nem técnicos de som… Cuidamos para nos fazer o mais claros o possível, mas muitos aspectos da comunicação se perdem digitalmente. Ao mesmo tempo, temos uma preocupação imensa com a quantidade de tempo que estamos expostos às telas. Nos falta a relação interpessoal e a relação com a natureza”, completa Gabriel.
Quais os aprendizados absorvidos?
Ao olhar para o todo, é difícil falar de aprendizado. É complicado tirar o positivo de uma situação como essa. A empatia e a resiliência seriam o mais próximo de uma lição absorvida durante a pandemia.
“Muitos dos nossos estudantes estão perdendo seus familiares, estudantes que vivem em condições precárias e que não têm suporte. Famílias que não têm convênio médico, que não conseguem fazer um teste de covid de um dia para o outro, que ficam nas filas esperando atendimento. Então, olhar para esse jovem e entender que ele não vai entregar a atividade, compreender que ele vai ficar chateado se for cobrado, respirar e pensar que precisamos sobreviver, ter paciência e respeitar o outro são os aprendizados”, diz Diana.
Para esse Dia do Professor, desejamos um futuro melhor
Sobre futuro: o que cabe sonhar para educação a partir de agora? Para o professor Gabriel, compreensão e reconhecimento são as palavrinhas mágicas. “Compreensão por nós como seres humanos e, também, estarmos sofrendo com todas as condições de viver uma longa quarentena em uma pandemia. Reconhecimento pela contribuição dos professores para com o futuro dos nossos jovens”.
Já para Diana, o futuro só será futuro se tiver educação pública e de qualidade para todos. “Que todos tenham acesso a uma educação que possibilite ingresso nas universidades, melhoria de qualidade de vida e valorização da cultura. Além de uma educação que compreenda o ser humano na essência e não só como uma máquina que vai produzir. Uma educação que tire o aluno da violência e da vulnerabilidade. Uma educação, visualmente falando, com prédios bonitos, janelas inteiras, coberturas nas quadras, professores felizes e bem remunerados”.
E para você, o que o futuro da educação precisa?