Educação antirracista: saiba onde a escola pode atuar
30 de setembro de 2020
Ao observar o cenário recente do mundo e do Brasil, fica clara a necessidade de propagação de uma educação antirracista. Não só para preparar e formar jovens mais conscientes de causas justas, como para incluir os que ficam à margem.
Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), tabulados pelo Instituto Unibanco, um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o Ensino Médio em 2018. Uma média geral alta, entretanto, ainda maior quando recortada entre a população negra. Quase metade (44,2%) dos homens negros dessa faixa etária não concluiu o segmento.
Ao ampliar a tabulação por cor da pele e gênero, revela-se mais: 33% das meninas negras nessa idade não têm Ensino Médio, enquanto o índice é de 18,8% entre as brancas. Tal cenário é só a ponta do iceberg. De acordo com a pesquisa, ser negro no Brasil aumenta a chance de exclusão escolar ao longo da educação básica.
Se, na média, 13,1% dos jovens de 19 a 24 anos não havia concluído o 9º ano do fundamental, entre os negros o percentual era de 19%. Também há mais negros dessa faixa etária ingressantes de escolas para Jovens e Adultos (EJA): seis em cada dez estudantes da modalidade são negros.
Os dados corroboram a existência de um racismo na escola estrutural, que leva os jovens a sentir na pele os reflexos da desigualdade de oportunidades enquanto estudantes e desistentes, uma vez que as oportunidades de trabalho acabam por se reduzir também.
O que é uma educação antirracista então?
Educação antirracista é a ideia de olhar para o planejamento educacional através de uma lente de equidade. É pensar em formas de desnaturalizar o racismo e incluir os negros no protagonismo juvenil. Um bom ponto de partida para lidar com essas questões é pensar em maneiras de incentivar os estudantes a pensar criticamente sobre raça e racismo.
Uma delas é trazer palestrantes e convidados para fornecer insumos e ferramentas para aumentar a conscientização sobre tais questões. Mas o que mais pode ser feito?
Estude e ensine história apontando a representatividade
Não importa o assunto ensinado, história é importante. Conhecer toda a história de nosso país nos ajuda a entender como chegamos até aqui. O currículo costuma abordar escravidão e não ir muito além da trajetória negra no Brasil. Como alternativa, é possível apresentar figuras como Dandara dos Palmares, Carolina Maria de Jesus, Machado de Assis, Milton Santos e Aleijadinho e oferecer uma oportunidade abrangente de aprender e discutir o racismo na escola por meio de suas narrativas e contribuições para o país. Da mesma forma, é necessário incluir a cultura afro-brasileira e indígena no currículo.
Fale sobre raça com os estudantes
A falta de diversidade, costuma atingir não apenas os estudantes, mas também os educadores. Em geral, a maioria é branca e, muitas vezes, não se sente à vontade para falar sobre raça. Entretanto, quando evitamos conversas abertas sobre o assunto, podemos plantar sementes do preconceito.
Por isso, fale abertamente. Abra espaços para que os jovens possam falar também. Para iniciar essas conversas, use fatos históricos e literatura como ponto de partida. Peça aos alunos que assumam a perspectiva de um personagem sobre o qual estão lendo. A Editora do Brasil tem em seu catálogo submetida a avaliação para o PNLD 2020 a obra “Um encontro com a liberdade”, escrito por Júlio Emílio Braz e ilustrado por Roberto Weigand.
Indicada para estudantes do 8º e 9º ano, conta a história de Gabriel, que ainda criança perdeu a mãe, uma escrava e companheira de um rico comerciante português. Durante o enredo, o garoto, que sempre trabalhou para o pai, passa a entender sua condição e a situação em que outros negros se encontram. A obra discute a libertação dos escravos, conduzindo o leitor a perceber outro lado, muitas vezes desconhecido, sobre a Lei Áurea.
A leitura e a representação de papéis fomentam uma educação antirracista e aumentam a empatia perante os fatos. Além de ensinar tolerância e formas de lidar com o desconforto.
Quando ver atitudes racistas, faça algo
Como diz a filósofa Angela Davis: “numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Assim, parte do papel da escola é ensinar a lutar contra o racismo e quaisquer outros preconceitos. Portanto, ao identificar estruturas e atitudes defasadas, aponte e corrija. Dê o exemplo aos jovens que serão o futuro da sociedade.
Como educação antirracista, considere como os recursos acadêmicos, políticas, admissões, contratações, avaliações e práticas de gestão podem ser racistas. A quem eles têm beneficiado e a quem têm prejudicado? Os negros e outras pessoas de cor são afetados negativamente pelas práticas disciplinares, pedagógicas e administrativas? Quais estudantes são mais atingidos pelo código de vestimenta ou aparência física? As respostas podem levar a grandes transformações.
É importante envolver e ativar não apenas as pessoas negras da sua instituição. Esta é uma causa de todos e problema de todos. Crie espaço e forneça recursos para que os professores também façam o trabalho de se tornarem profissionais conscientes e reflexivos, equipados para mudar mentalidades.
Fonte: Evasão maior entre meninos requer atenção; 4 em cada 10 jovens negros não terminaram o ensino médio.