Elogios e críticas: a arte de educar filhos e filhas

2 de dezembro de 2019

“É preciso saber elogiar com verdade a partir de fatos reais e criticar a situação, o comportamento, preservando a pessoa”.

 

Um dilema que pais, mães e responsáveis vivem com relação a sua responsabilidade educativa é como elogiar ou criticar filhos e filhas de forma assertiva.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que pais assertivos têm capacidade de criticar ou elogiar de maneira clara, objetiva e transparente, empregando palavras suaves e usando argumentos verdadeiros.

Filhos e filhas não devem apenas receber elogios; a crítica faz tão bem ao fortalecimento dos laços afetivos quanto as palavras doces e carícias. O “eu te amo” faz efeito se existir o “eu não gosto disso”.

É interessante observar que uma das coisas mais eficazes a se fazer é separar o comportamento da pessoa. Assim, podemos criticar o comportamento, sem desmerecer ou humilhar a pessoa. Trocar o “você é” pelo “sua atitude está” ou “seus resultados estão” já ajuda bastante.

Não se deve criticar ou elogiar sempre filhos e filhas. O caminho para o desenvolvimento de crianças e jovens é o meio termo. Isso é quase uma arte.

É preciso saber elogiar com verdade a partir de fatos reais e criticar a situação, o comportamento, preservando a pessoa. Não se deve recriminar filhos e filhas pelo o que são, mas pelo o que fazem e demonstram, em razão de seus comportamentos, atitudes e palavras.

Gosto da metáfora da pipa para refletir sobre a atuação dos pais diante de situações cotidianas com filhos e filhas, em que há necessidade de ponderar momentos de elogios e de críticas.

Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o sucesso da brincadeira está em aproveitar a força e a direção do vento para fazê-la subir e, depois, quando já empinada, saber tencionar a linha, porque, quando muito esticada, se rompe, fazendo com que a pipa solta se perca pelos ares, ou, ao contrário, quando muito frouxa (com “barriga”, como dizem as crianças), leva a pipa a rodopiar nas alturas e, sem controle, cair ao chão.

Pais e mães não podem se esquecer de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que ela perca a estabilidade e o sentido.

Ao “dar linha”, lançamos elogios e, ao fazer críticas, “enrolamos a linha” no carretel. Damos linha quando falamos sobre comportamentos e atitudes que nos surpreendem e que são mais do que esperávamos. Não se pode elogiar o tempo todo, pois isso esvazia o potencial desse reforço positivo e, assim, banalizam-se os momentos nos quais deve de fato ocorrer. Por exemplo, não se deve dar os parabéns ao filho ou filha por terem tomado um banho, senão a cada banho esse parabéns se tornará vazio. Porém, se há algo inédito no banho, uma atitude que surpreende, daí cabe um elogio.

Em contrapartida, só criticar o tempo todo não é bom. Pais e mães comprometidos com a educação de seus filhos e que estabeleceram com eles uma relação de afeto não devem ter medo de criticar, contudo deve-se perceber quando as repreensões estão passando dos limites.

Crianças e adolescentes que são muito criticados costumam ter medo de errar e tornam-se muito inseguros. É importante tomar cuidado com rótulos, comparações entre irmãos e repetições de críticas que mais parecem um “mantra” do que uma orientação. Em vez de dizer “Outra vez isso!”, diga “Da próxima vez, pense melhor! ” ou “Não aguento mais isso!”, fale “Pense num jeito de não acontecer outra vez!”.

E, finalmente, necessitamos esclarecer que pais não são “coleguinhas” e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de sermos tomados como antipáticos, temos a responsabilidade de impor alguns limites e fazer certas críticas, porém sempre com respeito e propondo alternativas para mudança.

Pai e mãe, então, têm a árdua tarefa de “puxar” e “soltar” filhos e filhas, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até que se atinja o objetivo fundante da educação: viver de forma vibrante e intensa para alcançar as alturas possíveis.

 

Francisca Romana Giacometti Paris é pedagoga e mestra em Educação.

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