Figuras Históricas do Brasil: quem é Niède Guidon e como ensiná-la em sala de aula?
29 de maio de 2025
Niède Guidon. Só esse nome já levanta debates, entusiasmos e até algumas controvérsias. Mas também acende uma oportunidade rara: mostrar aos estudantes que ciência se faz com coragem, imaginação e, às vezes, enfrentando o mundo. Poucos personagens representam tão bem a interseção entre descobertas científicas, preservação ambiental e transformação social no Brasil.

Neste primeiro texto da série “Figuras Históricas do Brasil: quem foi e como ensinar”, vamos falar dela, seus feitos, as controvérsias sobre sua teoria e as possibilidades pedagógicas de incluir sua trajetória nas aulas de diferentes etapas da Educação Básica.
Quem é Niède Guidon?
Niède Guidon é uma das figuras mais emblemáticas da arqueologia brasileira. Nascida em Jaú (SP), com formação na USP e na Sorbonne, ela ficou conhecida por liderar, a partir da década de 1970, as escavações na região do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, onde se concentram os maiores e mais antigos sítios arqueológicos das Américas.
Ali, sua equipe encontrou vestígios que, segundo suas pesquisas, indicam a presença humana no local há até 100 mil anos, o que contradiz a teoria mais difundida sobre o povoamento das Américas, baseada na travessia pelo Estreito de Bering há cerca de 13 mil anos. Essa hipótese, conhecida como teoria de Niède Guidon, é uma das mais discutidas em sala de aula quando se aborda a ocupação do território americano. Ainda hoje, muitos se perguntam: por que a teoria de Niède Guidon não é aceita por parte da comunidade científica?
As evidências são carvões, ferramentas e pinturas datadas de até 48 mil anos atrás. Para boa parte da comunidade científica, esses vestígios não passam de geofatos (formações naturais). Mais do que uma disputa de datações, a polêmica revela como a história é escrita (e silenciada) a partir de diferentes centros de poder. Para seus defensores, Niède abriu caminho para um novo olhar sobre a pré-história brasileira. Para seus críticos, suas hipóteses ainda carecem de comprovação definitiva. E essa tensão pode ser um excelente ponto de partida para aulas investigativas e críticas.
Como trabalhar a trajetória de Niède Guidon em sala de aula?
Trazer figuras históricas do Brasil como Niède Guidon para o centro do debate escolar é uma forma de ampliar repertórios, estimular o pensamento crítico e conectar diferentes áreas do conhecimento. A seguir, algumas sugestões práticas:
- Feira de Arqueologia: os alunos podem recriar pinturas rupestres em papel kraft, apresentar teorias sobre a ocupação das Américas e montar “mini escavações” com réplicas de artefatos (como ossos, cerâmicas e ferramentas). A atividade pode ser interdisciplinar, envolvendo Artes, História e Ciências.
- Debate científico: organizar uma roda de conversa em que grupos defendam diferentes teorias sobre a chegada do Homo sapiens à América. Esse exercício ajuda os estudantes a compreenderem o papel da controvérsia e da evidência científica, e a reconhecerem o valor da dúvida como parte do processo do conhecimento.
- Roteiro de documentário: os estudantes podem construir um roteiro (ou gravar um vídeo) sobre a vida e obra de Niède Guidon. O projeto pode incluir trechos de entrevistas disponíveis online, como o documentário da UNIVESP, criando um produto audiovisual informativo e autoral.
- Mapeamento dos biomas brasileiros: explorar a Serra da Capivara como ponto de interseção entre a Caatinga e o Cerrado, com foco em biodiversidade e arqueologia. Isso permite discutir os impactos ambientais e os desafios da preservação em áreas semiáridas.
Durante essas atividades, os educadores podem contar com o apoio de materiais da Editora do Brasil. O livro Bem-me-quer Mais – História oferece uma abordagem sensível sobre migrações, deslocamentos humanos e o papel da arqueologia no conhecimento histórico. Já a obra Panorama da Arte: do Paleolítico ao Contemporâneo permite aprofundar a análise das pinturas rupestres da Serra da Capivara, valorizando sua função estética e cultural.
Para os Anos Finais, o livro Tapete Vermelho é uma excelente ferramenta para ampliar o olhar dos estudantes sobre a relação entre arte, cor e história, um bom gancho para pensar as expressões simbólicas do passado.
Uma história que continua viva

Niède Guidon viveu boa parte de sua vida em São Raimundo Nonato, onde fundou a Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano) e lutou pela preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara. Criou projetos sociais, promoveu o empoderamento feminino, formou equipes locais e deixou um legado que vai além da ciência. Ela nos mostra que há mais de uma forma de contar a história do Brasil e que a coragem de romper consensos também merece espaço no currículo escolar.
Este é só o começo. Ao longo da série Figuras Históricas do Brasil: quem foi e como ensinar, vamos apresentar outras personalidades inspiradoras que ajudam a enriquecer as aulas com histórias de vida, pensamento crítico e conexão com os desafios do nosso tempo. Continue com a gente!