Histórias de sala de aula: o impacto de aprender novos idiomas
9 de abril de 2025
Professora de inglês, Juliana Tavares fala sobre suas vivências em sala de aula e reflete sobre a importância do aprendizado de idiomas
Por Juliana Tavares
Em meu trabalho com formação de professores de Língua Inglesa na rede pública de ensino, tenho ouvido histórias que não faziam parte do meu repertório, tendo atuado a maior parte de minha carreira no setor privado.
São histórias que nos mostram uma particularidade da escola pública considerada a mais fascinante e mais desafiadora: a heterogeneidade. Não que na escola particular ela não exista, afinal, cada família e cada aluno são únicos. Também podemos encontrar níveis socioeconômicos bem diferentes em uma mesma escola particular, mas é justo dizer que todos que ali se encontram partem de um mínimo básico.
Porém, quando falamos de uma escola pública, temos um universo social diverso, que vai desde famílias com poder aquisitivo suficiente para uma vida digna até situações de extremo abandono, com problemas que incluem insegurança alimentar, desemprego, lares desprovidos de ao menos um dos pais, além de casos mais sérios que envolvem violência doméstica e abusos.
Os relatos que ouço de professores de diversos municípios é que, para muitos de seus estudantes, existe uma distância quase instransponível entre aprender inglês na escola e usar esse inglês na vida real. Um professor me disse que seus alunos alegam não se preocupar com o inglês porque, em suas palavras, “eles nunca vão para a Disney”.
Esse mesmo professor me perguntou, com genuína angústia, se era possível reverter esse pensamento. Como desconstruir essa crença, tão carregada de desilusão, que desde tão cedo parece fazer morada nessas cabecinhas?
Fiquei pensando que, se fosse eu a responder, provavelmente não iria pelo caminho das frases feitas e vazias que me aterrorizam, do tipo “Tem que acreditar! O sucesso depende somente de você! Sei que um dia você vai conseguir ir à Disney!”. Eu provavelmente diria a ele que o inglês deve ser aprendido porque ele não pertence apenas a quem pode ir à Disney. Eu diria que aprender inglês, assim como aprender qualquer outra língua, é também aprender sobre o outro, sobre aquele que não lhe é familiar, sobre culturas diversas.
Também diria a esse aluno que aprender línguas nos ajuda a aprender inúmeras outras coisas que podem nos ajudar a ser pessoas mais autônomas, com mais agência e capacidade de mudança.
Mostraria a esse aluno quantas coisas interessantes podemos fazer quando falamos mais de uma língua. Podemos, por exemplo, ensinar com mais facilidade a nossa própria língua a quem quiser aprendê-la. Podemos divulgar nossa cultura a outros povos que também aprendem inglês, mas que não o falam como língua nativa. “Olha quanta coisa legal você pode fazer com o inglês sem ter que ir à Disney”, eu diria.
Acima de tudo, eu reforçaria que é possível ir à Disney sem saber inglês. Porém, querer conhecer o novo, ter curiosidade e vontade de aprender inglês ou qualquer idioma faz com que uma viagem se torne muito mais interessante. E que, talvez, aprender inglês fosse o primeiro passo rumo a outras viagens, não menos interessantes ou repletas de novidades. Deixaria claro que a Disney é apenas umas das mil coisas que podemos conhecer sabendo outros idiomas.
Sobre a autora
Juliana Franco Tavares é mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professora, coordenadora pedagógica, formadora de docentes e autora da Editora do Brasil.
Este é um artigo de opinião e reflete exclusivamente as ideias da autora, não representando, necessariamente, a posição da Editora do Brasil.