Leitura crítica: filmes de ficção e documentários na escola
21 de março de 2025
O uso de filmes e documentários na escola pode ser uma poderosa ferramenta pedagógica, desde que seja bem planejado e alinhado às habilidades e competências dos estudantes.
A projeção de filmes de ficção e documentários em sala de aula pode propiciar momentos significativos de aprendizagem aos estudantes. Para Graça Sette e Márcia Travalha, coautoras da obra Língua Portuguesa: Linguagens e Cultura, da Coleção Interação-Linguagens, inscrita no PNLD 2026 para o Ensino Médio, isso exige a mediação do professor para motivar o interesse pelos temas abordados e pela cinematografia, que emprega linguagem narrativa, visual e sonora. Assim, tanto os filmes ficcionais como os documentários, em sala de aula, passam a ter como objetivo propiciar ao estudante a fruição estética e a compreensão de questões sociais, políticas, históricas, culturais e literárias, ou seja, adquirem uma finalidade pedagógica.
Para isso, é importante levar os estudantes a compreenderem as especificidades do filme ficcional e do documentário. Pode-se estabelecer, por exemplo, uma analogia entre o texto literário e o filme ficcional (com ênfase na função estética, na recriação da realidade etc.) e entre o texto não literário e o documentário (com ênfase na informação, na objetividade etc.).
Planejamento e conexão com os conteúdos curriculares: elementos essenciais para uma prática pedagógica eficaz
Outros aspectos a serem destacados para que essa prática pedagógica seja eficaz e prazerosa é o planejamento de todas as etapas da atividade, a explicitação das habilidades e competências que serão desenvolvidas e a conexão entre o filme/documentário, a temática abordada nele e os conteúdos estudados em sala de aula.
Como essa atividade é proposta por professores de diferentes áreas – o que, muitas vezes, demanda a parceria com o professor de Português –, para ajudar na leitura compreensiva e crítica da linguagem cinematográfica sugerimos, a seguir, um roteiro para favorecer o trabalho interdisciplinar. Por óbvio, os filmes de ficção ou os documentários devem ser analisados de acordo com suas especificidades quanto às linguagens: visual, sonora, falada e escrita nas legendas.
Filmes de ficção: o que deve ser analisado
Nos filmes de ficção (romances, dramas, comédias, desenhos animados, de aventuras, de ficção científica etc.) devem-se analisar os seguintes aspectos:
- o conteúdo ideológico das mensagens;
- os elementos constitutivos da narrativa: personagens, enredo, tempo (cronológico, histórico, psicológico), espaço, suspense, clímax, desfecho;
- a sequência do enredo: do passado para o presente, lembranças do passado (flashback), do presente para o futuro etc.;
- momentos de suspense: efeitos resultantes da articulação de certos elementos da narrativa (por exemplo: uma história contada em flashback em um cenário sombrio; sequência em que um personagem corre perigo, pode sofrer um acidente, pode ser atacado, pode morrer etc.).
- os diálogos e as falas em off (quando aparece apenas a fala do narrador);
- a relação entre o gênero e a maneira de se contar a história;
- a adequação do cenário, do figurino, da maquiagem, das falas aos personagens e à época em que se passa a história.
- a relação entre as imagens e a trilha sonora (músicas, sons, ruídos); a trilha sonora e os momentos de ação, suspense, perigo, alegria, romantismo, paz etc.
- a relação entre iluminação e passagem do tempo (anoitecer, amanhecer etc.);
- a adequação dos elementos que indicam passagem do tempo: relógio, calendário, legenda etc.;
- a relação entre cores e emoções (cores vivas podem indicar alegria; cores sombrias podem representar tristeza, por exemplo);
- os movimentos da câmera, que conduzem o olhar do espectador;
- a relação intertextual existente entre a linguagem cinematográfica e outras linguagens;
- o desempenho dos atores.
Documentários: que aspectos devem ser analisados
Nos documentários, devem ser analisados os aspectos a seguir:
- o conteúdo ideológico das mensagens;
- o tema ou assunto abordado (aspectos históricos, sociais, políticos e culturais abordados);
- a fala do locutor ou do narrador;
- as fontes consultadas (documentos históricos, depoimentos e entrevistas, os diferentes pontos de vista);
- a relação entre imagens e fatos abordados (ou informações);
- a distinção entre fatos e opiniões;
- as cores como elementos da narrativa (preto e branco ou colorido);
- a trilha sonora.
A exibição de filmes deve levar em conta a faixa etária dos estudantes, a maturidade da turma e os aspectos pertinentes ao trabalho desenvolvido em sala de aula, de acordo com o projeto pedagógico da escola.
Convém destacar também que provas, questionários e preenchimento de fichas previamente elaboradas não são os meios mais produtivos e motivadores na formação de apreciadores qualificados de filmes e outras obras artísticas.
Após a projeção – e de acordo com as orientações apresentadas anteriormente – sugerimos a realização de um debate em grupos para discutir o tema, os recursos estéticos, a visão de mundo expressa na obra cinematográfica, as percepções e avaliações de cada estudante, com vistas à produção posterior de uma resenha crítica. Cada grupo deve escolher um representante para socializar a discussão. As resenhas críticas de cada grupo poderão ser postadas no blog da turma ou da escola. Ao final, devem ser avaliadas todas as etapas do trabalho.
A seguir, apresentamos também algumas sugestões bibliográficas que poderão auxiliar no desenvolvimento dessa tarefa.
Bibliografia
– ALMEIDA, Milton José de. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 2004.
– AMOUNT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. 3. ed. São Paulo: Papirus, 2007.
– CITELLI, Adilson (Coord.). Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo: Cortez, 1997. v. 3.
– COMPARATO, D. Da criação ao roteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
– DUARTE, R. Cinema & educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
– DUARTE, R. M.; LEITE, C.; MIGLIORA, R. et al. Produção de sentido e construção de valores na experiência com o cinema. In: SETTON, M. G. S. (Org.). A cultura da mídia na escola: ensaios sobre cinema e educação. São Paulo: Annablume, 2004.
– FRESQUET, A. (Org.). Imagens do desaprender. Rio de Janeiro: Booklink (CINEAD-LISE-FE/UFRJ), 2007. (Cinema Educação.)
– MACHADO, A. A televisão levada a sério. 2. ed. São Paulo: Senac, 2010.
– MARCONDES, B.; MENEZES, G.; TOSHIMTSU, T. (Org.). Como usar outras linguagens na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2000.
– TEIXEIRA, Inês A. de C.; LOPES, José de Sousa (Orgs.). A escola vai ao cinema. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
– XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
Sites: cinema, vídeo e televisão na escola
- Curta na Escola: rede nacional colaborativa para o uso de curtas-metragens brasileiros em salas de aula, em atividades interdisciplinares. Disponível em: www.curtanaescola.org.br/.
- Ancine (Agência Nacional de Cinema): página que apresenta muitas informações a respeito do cinema brasileiro. Disponível em: www.ancine.gov.br/.
- MIS (Museu da Imagem e do Som – São Paulo): acervo multimídia, com exposições, atividades educativas e uma série de links de acesso a muitas imagens (filmes, vídeos, curtas-metragens), trilhas sonoras, músicas, letras, composições folclóricas etc. Disponível em: www.mis-sp.org.br/.
- Cinemateca Brasileira: página que conta com extensa base de dados, incluindo a catalogação de toda a filmografia brasileira, com acesso a vários filmes e vídeos educativos sobre diversas temáticas nacionais. Disponível em: https://cinemateca.org.br/
- BCC (Banco de Conteúdos Culturais): página que apresenta arquivo de vídeos, fotos e roteiros de filmes produzidos pela Atlântida, Vera Cruz, TV Tupi, além de cartazes de filmes brasileiros e estrangeiros de todos os tempos. Disponível em: www.bcc.org.br/.
- Cine Brasil TV: canal dedicado à produção audiovisual nacional independente, com uma programação que divulga a diversidade cultural produzida em todas as regiões do país.
Apresenta filmes de longa, média e curta-metragem, documentários, minisséries, animações, entrevistas, cobertura de festivais e notícias da sétima arte presentes no dia a dia e oferecidos ao telespectador por quem faz cinema. Ótima opção para ajudar os alunos a conhecerem a linguagem cinematográfica. Disponível em: https://www.cinebrasil.tv/.
- Cinema Brasil: página que apresenta diversas produções cinematográficas brasileiras de todos os tempos. Disponível em: http://cinemabrasil.org.br/.
- Curta Agora: acervo virtual com mais de 4 mil filmes com informações como título, diretor, equipe de filmagens etc. Disponível em: https://www.curtagora.com/.
- Curta o curta: site que exibe curtas-metragens brasileiros e notícias relacionadas a esse formato. Disponível em: www.curtaocurta.com.br/.
- Casa do Cinema de Porto Alegre: site que divulga as atividades da produtora, com artigos e sinopses de filmes. Disponível em: www.casacinepoa.com.br/.
Revistas eletrônicas
- Cinética: revista eletrônica sobre cinema e crítica cinematográfica, com resenhas e trechos dos últimos filmes lançados no mercado. Disponível em: www.revistacinetica.com.br/.
- Studium/IAR: revista eletrônica do Instituto de Artes da Unicamp. Divulga atividades e artigos sobre arte, incluindo cinema e televisão. Disponível em: https://www.iar.unicamp.br/revista-studium-40/.
- RevBravo: site da revista Bravo que trata de cinema e televisão (com análise de comerciais, peças de propaganda e publicidade etc.). Disponível em: www.revbravo.com.br/.
Vídeo/internet
- Entrevista com Ollivier Pourriol. Vídeo dirigido a educadores e pesquisadores com a finalidade de promover a reflexão sobre as novas práticas e estratégias pedagógicas virtuais. O professor de filosofia, romancista e ensaísta Ollivier Pourriol fala sobre as aulas que ministra em Paris, em que relaciona cinema e filosofia. Saraiva Conteúdo. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=vXVg-XjmY-w.
Sobre Graça Sette e Márcia Travalha
Graça Sette e Márcia Travalha são coautoras da obra Língua Portuguesa: Linguagens e Cultura, da Coleção Interação-Linguagens, da Editora do Brasil, inscrita no PNLD 2026 para o Ensino Médio. Graça Sette é graduada em Letras (Português/Francês) pela PUC-MG e licenciada em Letras/Português pela FAE-UFMG. Márcia Travalha é graduada em Letras pela UFMG e em Artes pela Escola Guignard (MG). Ambas têm ampla experiência no ensino de Língua Portuguesa e na produção de materiais didáticos para a educação básica.