O ensino da arte e a releitura das obras no contexto da Educação
17 de março de 2021
O século passado encerrou-se com uma mudança significativa na concepção do ensino da arte com a proposta da arte-educadora Ana Mae Barbosa apoiada no tripé: produção artística, fruição (ou apreciação estética) e contextualização, propiciando uma ampliação do repertório do aluno ao propiciar a ele o acesso a uma variedade de obras de arte. Essa proposta trouxe um novo jeito de olhar para o ensino da arte, proposto a partir da obra de arte. Esta é uma das conquistas da abordagem triangular.
Um dos pilares desta proposta está nos anos 1960 com a elaboração da Discipline – Based Art Education (DBAE), por teóricos estadunidenses e ingleses, e da sua sistematização pelo Getty Center for Education in the Arts, em 1982. No Brasil, a abordagem foi elaborada e desenvolvida com apoio da equipe do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no início da década de 1990.
A abordagem triangular chega às escolas relacionando a apreciação ao fazer, processo apoiado pela contextualização. Porém, em muitos momentos, esta maneira de trabalhar com o estudante levou a uma apropriação equivocada ao utilizar a abordagem propondo releituras que se constituíam na realização de uma “cópia” da obra observada, desviando-se da ideia original que equipara os três eixos em igual importância.
Ensino da arte e a revisão do caminho da releitura nas salas de aula
Em relação a essa maneira de apreciar e produzir no ambiente escolar, a arte-educadora Mirian Celeste Martins sugere algumas adaptações da proposta em seu percurso nas salas de aula. Além disso, a arte-educadora enfatiza que “a apreciação não fique focada numa única obra ou um único artista, mas sim que a escolha do que será oferecido aos estudantes deve estar articulada ao que queremos investigar com elas”. Ao fazer tal observação, Mirian aproxima a fruição de obras ao propósito pedagógico do momento de cada turma, em cada contexto.
Sobre essa questão, ela exemplifica que “pode ser instigante explorar os elementos da arte, como as cores, e será interessante propor para os alunos que observem várias obras, de artistas diferentes, que trazem a questão da cor em seu trabalho, seja com cores chapadas, realistas, surrealistas, experimentais, com um olhar contemporâneo”.
Ao valorizar a produção individual de diversos artistas, o professor pode ampliar o repertório do aluno, tanto em relação à fruição de várias obras como a fazer conexões com obras de momentos diferentes da arte. Em fruição com essa diversidade, Mirian ressalta que essas ações podem permitir a percepção de que cada artista tem um trabalho diferente, uma compreensão pessoal e um modo de se apropriar dos elementos na maneira de se expressar.
Os ganhos para os estudantes
Ao observar diferentes obras, os estudantes têm a possibilidade de fazer suas próprias conexões, principalmente em relação à liberdade na forma de se produzir arte. A percepção do modo singular como cada artista se expressa e a pluralidade de seus processos de criação, os alunos podem compreender que não necessitam buscar similaridades entre o seu “fazer” e um modo específico com que um artista produz seu trabalho. Ao propiciar a comparação entre várias formas de produzir arte, o professor se distancia de práticas que enaltecem a cópia superficial de uma obra, privilegiando, assim, a criatividade e a autonomia.
Mirian Celeste também ressalta que “se assegurarmos ao aluno que ele pode criar seus próprios processos, não cabe certo-errado, bonito-feio, ou ainda estar preso à resposta de perguntas do tipo ‘O que é? O que você fez?’. Afinal, estas colocações já trazem em si limitações ao processo criativo!”.
Como referido no texto “O tempo norteia o planejamento escolar” neste blog, a Base Nacional Comum Curricular – Arte/BNCC-Arte propõe entre seus objetos de conhecimento o processo de criação, reconhecendo que o valor criativo está no processo. É ele que deverá importar para o estudante e para o professor! Esse olhar possibilita que o produto final seja o trabalho singular de cada um.
*Por Maria Helena Webster e Equipe de Linguagens
Referências bibliográficas
Livro
PILLAR, Analice; VIEIRA, Denyse. O vídeo e a Metodologia Triangular no Ensino da
Arte. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Fundação Iochpe,
1992.
Site
MARTINS, Mirian Celeste. Abordagem triangular é indicada para a educação de artes no ensino fundamental.