Professores: estamos prontos para as aulas online?
29 de abril de 2019
A pandemia do novo coronavírus, que segundo o Rastreador de COVID-19 da Bing, desenvolvido pela Microsoft, até o dia 28 de abril já contaminou cerca de 66.800 brasileiros e mais de três milhões de pessoas ao redor do mundo, forçou que escolas de ensino regular de todos os países afetados fossem fechadas por tempo indeterminado. Como o aprendizado não pode parar, as aulas on-line surgiram como uma grande alternativa à formação de crianças e jovens em idade escolar. Por outro lado, elas representam uma grande novidade para muitos, gerando diversas dúvidas para os estudantes, suas famílias e até mesmo para professores e gestores, sobre como se deve encarar essa nova realidade.
Não estamos sozinhos
Até poucos meses atrás, a ideia de se implantar massivamente aulas on-line para o ensino regular no Brasil, principalmente nas escolas públicas, era uma hipótese remota. A própria formação pedagógica voltava-se para a tecnologia como uma ferramenta que complementa o ensino presencial. Quando toda essa lógica se inverte de modo abrupto, colocando a internet como base e ferramenta essencial para o aprendizado do jovem, as dúvidas surgem. Tal sentimento de estranhamento é natural. “Como o professor vai avaliar meu filho?”, “Como vou fazer essa atividade?”, “Como assegurar que minha turma está progredindo e aprendendo à distância?”. O primeiro passo para esclarecer todas essas questões é manter-se conectado. Em tempos de isolamento social, é imprescindível que usemos a tecnologia a nosso favor e que unamos, por meio de aplicativos de mensagens, grupos em redes sociais e outras plataformas digitais, pais, estudantes, professores e gestores. Isso ajuda não apenas a esclarecer todas as dúvidas, mas também nos faz compreender que não estamos sozinhos nesta crise.
E, de fato, não estamos. Segundo a UNESCO, até o início da última semana de abril, já existiam mais de um bilhão de alunos fora das escolas em 186 países. Só no Brasil, já são registrados mais de 52 milhões de jovens sem aulas presenciais. Lembrar do macro pode ser essencial para que consigamos nos unir para enfrentar nossas realidades individuais, seja como gestor ou como professor.
O que priorizar na hora de pensar sobre aulas on-line?
Os números da UNESCO mostram que, para assegurar a educação de milhões de brasileiros em tempos de coronavírus, é preciso, no mínimo, de um ótimo plano de contingência. Mas, o que priorizar na hora de garantir o conforto e confiança para pais e estudantes, assegurando o aprendizado da turma, sem deixar de lado a realidade do professor que também deve se adaptar? Existem três pilares que podem ser seguidos por docentes e gestores. Confira:
Prioridade 1: desafios psicossociais
A seriedade da pandemia de Covid-19 certamente mexe com nosso estado psicológico. Para que consigamos fazer um bom trabalho, é preciso ter essas emoções controladas e organizadas. Por isso, esse é o momento de colocar os desafios psicossociais à frente dos educacionais.
Enquanto gestor, é importante que você busque saber como seus funcionários estão – telefone, faça uma vídeo chamada, ou entre em contato de alguma outra forma segura para que o professor saiba que não estará sozinho durante este momento. Trace pequenas metas individuais, e avalie o quão confortável ele está com a realidade das aulas on-line e qual o seu nível de familiaridade com tecnologias. Assim, é possível desenvolver ações que torne este momento mais agradável e fácil para o docente.
Já enquanto professores, é imprescindível que se mantenha o máximo de união com redes de apoio – seja entre toda a escola ou por anos de ensino. Não é à toa que existe, na escola física, a sala dos professores: a troca de ideias, conhecimentos, insights e atividades não deve se restringir apenas àquele ambiente físico – agora, mais do que nunca, é hora de nos mantermos em contato, de dividirmos nossas dificuldades e de auxiliarmos os colegas de profissão. Assim, fica mais fácil o processo de empoderamento e autonomia em relação ao universo digital por parte dos professores.
Prioridade 2: comunicação
Quando a equipe escolar conseguir se organizar em suas redes de apoio e se sentirem seguras, é hora de ir ainda mais fundo na questão de comunicação digital, e procurar estar o mais conectado possível com a comunidade e com os próprios estudantes. Isso é essencial para que todas as dúvidas, principalmente dos pais, sejam sanadas e que se crie um senso de confiança mútua entre todas as partes.
Uma ótima maneira de manter uma interação organizada entre todos esses agentes é a criação de fóruns, onde as dúvidas podem ser catalogadas e respondidas, ou a formação de grupos em redes sociais ou aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp – isso porque, nesses ambientes, a conversa é rápida e direta, o que evita mal-entendidos e cria um senso de cuidado e prestação, que alimenta a confiança dos pais e motiva os estudantes.
Prioridade 3: ferramentas e plataformas certas
Use as ferramentas corretas de acordo com seus objetivos e o nível de sua turma. Usar o Google Maps, por exemplo, pode não ser interessante para uma turma de Educação Infantil que não possui noção de cartografia. Visitas digitais a museus internacionais, como o Louvre, em Paris, cujos sites são inteiramente em inglês, talvez sejam recomendados apenas para salas de Ensino Médio, quando se espera um nível maior de fluência em língua estrangeira.
Assim, cabem aos professores se unirem de acordo com seus objetivos e adaptarem o plano de ensino definido no início do ano, quando ainda se esperava seguir 2020 com aulas presenciais, para a realidade on-line. Assim, com esse plano adaptado, é necessário realizar uma pesquisa sobre as melhores ferramentas digitais que colaboram e enriquecem o aprendizado do estudante de acordo com o que quer ser ensinado.
De visitas virtuais a aplicativos de criação de tirinhas de HQs, as possibilidades de ferramentas digitais que contribuem para o aprendizado dos jovens são inúmeras. Se você ainda tiver dificuldade em encontrar as melhores delas, a Editora do Brasil organizou um guia com várias ferramentas para aulas on-line. Nesse eBook, mais do que conhecê-las, você encontra dicas de como aplicá-las no dia a dia com sua turma.
Estratégias simples para o ensino à distância
Durante a etapa de implantação das aulas on-line e durante sua execução, é importante que gestores e professores mantenham um planejamento alinhado com a realidade da comunidade escolar. Não basta apenas assegurar que todo o planejamento foi adaptado com sucesso para a modalidade remota, por exemplo – isso não será totalmente eficiente se não nos assegurarmos tanto que os docentes consigam aplicar tais atividades, quanto que os estudantes estão conseguindo ter acesso e desenvolvendo suas competências e habilidades.
Assim, organizamos quatro perguntas e respostas que auxiliam a equipe escolar na tarefa de manter o máximo de qualidade das aulas on-line.
Meus professores estão recebendo suporte?
É preciso oferecer apoio e suporte técnico para que os professores consigam trabalhar com as ferramentas digitais. Tutoriais, via apresentação ou videoaulas curtas são boas formas de trabalhar este suporte.
Para isso, é preciso conhecer o nível de familiaridade de cada professor para que seja possível elencar por onde este apoio irá começar. Também é por meio desta “métrica” que o gestor pode até mesmo sugerir ferramentas mais intuitivas que supram as necessidades esperadas. Também é válido mapear a qualidade da internet de cada docente – de nada adianta optar por sites e aplicações pesadas, que serão um transtorno nestas situações, se é possível optar por programas leves que oferecerão os mesmos resultados.
Minha turma está recebendo suporte?
Já enquanto professor, é importante averiguar se a comunicação com os estudantes e com os pais e familiares é efetiva. Ainda que as aulas on-line usem recursos ativos que não necessitem da presença do professor, não é recomendável que o profissional “suma”. É importante fazer sua turma perceber que você está on-line e à disposição para quaisquer dúvidas. Isto é, assim como a gestão deve te apoiar, você também deve apoiar aos jovens.
Uma boa alternativa é manter um horário específico, todos os dias, para interações. Assim, os jovens podem organizar suas dúvidas, que serão esclarecidas diariamente numa “aula virtual”, isto é, em tempo real, ainda que seja via bate-papo ou fóruns.
As atividades são inclusivas?
A questão do mapeamento da qualidade da rede doméstica também deve ser feita em relação aos alunos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 80% dos lares brasileiros possui rede fixa ou móvel. Desses, 98% acessam via celular. Esses dados são importantes para que possamos considerar dois pontos essenciais:
- nem todos terão internet em casa;
- a maioria acessará por celulares, que possuem configurações diferenciadas a depender de modelo e ano.
Assim, é preciso que façamos o melhor para que as atividades sejam inclusivas – ou seja, que se adaptem facilmente a diversas realidades e que não se restringem unicamente à internet – como programas offline, aumentando as oportunidades para jovens sem acesso à internet.
Já quando pensamos na realidade dos alunos com deficiência, é preciso avaliar se o tipo de atividade será bem reconhecida por assistentes virtuais – como plugins que traduzem documentos em libras ou que lêem o que está escrito na tela. Por exemplo: uma atividade em formato PDF com diversos elementos gráficos no cabeçalho, no rodapé e no corpo do texto representarão certa dificuldade na hora da tradução em libras ou áudio automático – o que não acontece com um texto corrido, que é traduzido com facilidade e maior precisão, contribuindo significativamente para essa parcela de jovens com necessidades especiais.
A comunidade escolar está bem informada?
As fakenews se tornaram um problema particularmente perigoso em tempos de coronavírus. Diversas medidas tomadas pelo poder público são veiculadas de forma distorcida na internet, o que causa mal-entendidos que podem afetar a relação de confiança entre família e escola neste momento de contingência.
Assim, é importante que a escola se assegure de que sua comunidade está bem informada, combatendo as notícias falsas. Criar páginas ou perfis em redes sociais é a forma mais eficaz de se transmitir notícias verdadeiras para o maior número de pais e familiares de uma única vez. Além disso, pelas próprias redes (que podem ser controladas pela gestão ou secretaria escolar) é possível tirar dúvidas diretamente com a escola.
Assim, criar uma rede social da escola pode funcionar tanto como combate às fakenews, principalmente que envolvem o mundo da educação, como oferecer uma espécie de “secretaria on-line”.
O que aprendemos com as aulas on-line durante a pandemia de Covid-19?
Todo o estranhamento e dificuldades enfrentadas por pais e professores é reflexo da inexistência de planos de contingência para situações como essas. Assim como é necessário que cada escola tenha extintores de incêndio para emergências, o quê aprendemos com a pandemia de Covid-19 é que também temos que possuir planos “B”, “C”, ou “D” para situações emergenciais – locais ou nacionais. Assim, além da cautela e do cuidado com a saúde, é preciso, neste momento, aprender com a situação para que saiamos desta crise muito mais fortes e preparados do que quando entramos.
Outra questão importante é o uso massivo da tecnologia. O empoderamento do profissional da educação no que tange ao mundo digital é essencial para a evolução da educação como um todo. No pós pandemia, dificilmente, retornaremos para um modelo restrito à exposição do professor. A internet entrou de vez no aprendizado, mostrando seu lado inclusivo e ativo, provando que o processo de ensino, quando compartilhado e bem estruturado, vai muito além do giz e da lousa. Assim, espera-se que a tecnologia fique de vez, ainda com o regresso das aulas presenciais, marcando um novo capítulo da história das práticas pedagógicas ativas na educação brasileira.
Fontes:
https://drive.google.com/file/d/1LF0LkjG17u_iSXmnRDkdwoZsoKSzDuS3/view
https://pt.unesco.org/covid19/educationresponse
https://bing.com/covid/local/brazil