Ser professor no Brasil: desafios da docência
9 de setembro de 2021
Ser professor no Brasil é uma tarefa árdua e, atualmente, tem exigido ainda mais dos profissionais da educação. Com a pandemia de Covid-19, muito se falou sobre a síndrome de Burnout e a invasão da vida profissional na pessoal. Mas segundo a pesquisa Observatório do Professor, realizada pelo Instituto Península, outra grande problemática, que nem todos debateram ainda, é a solidão da classe de educadores. Alguns professores declaram que se “sentem tão sozinhos quanto impotentes para exercer o grande propósito da sua profissão: ser um agente de transformação”.
A dualidade entre o prazer de ensinar e a frustração de não conseguir fazer os estudantes aprenderem, figura dentre as causas apontadas pelos profissionais da educação. Assim como o peso de ser visto como o único responsável por mudar realidades e as comunidades nas quais estão inseridos. Ademais, um dos principais itens mencionados sobre as dificuldades encontradas pelo professor em sua prática docente, está a falta de um ambiente que facilite o diálogo e a colaboração entre os colegas, ou seja, a falta de apoio vinda da gestão na hora de intermediar a troca de experiências e até mesmo para simplesmente desabafar com quem conhece de perto a rotina de uma escola.
“Eles não se sentem parte de um time, o sistema exige deles soluções simples, porém a complexidade pode ser paralisante. Foi percebida uma desintegração entre o modelo de mundo atual e o modelo educacional; entre a concepção conteudista de educação e a sociedade da informação em que vivemos; entre a produção acadêmica do campo da pedagogia de elite e a realidade diária nas salas de aula brasileiras; entre a formação do professor e a prática de sala de aula; entre o discurso sobre o que deve ser a educação para o século 21 e a prática diária da educação nas escolas; entre o perfil “ideal” de professor e o professor real” (Observatório do Professor). É bom ressaltar que apesar de todas as dificuldades encontradas em sala de aula pelo professor, todos os que participaram da pesquisa disseram se orgulhar de seus percursos pessoais e profissionais.
Como apoiar os profissionais da sua escola na jornada de ser professor no Brasil?
Ser professor no Brasil e no mundo às vezes pode significar passar uma grande parte do dia sem ver outros adultos ou ter conversas além das metodologias de ensino-aprendizagem. Mesmo fora das salas de aula, às vezes há tarefas em que ficam ainda mais isolados e, durante esse tempo, estão perdendo conversas que muitas vezes poderiam unir os colegas física e emocionalmente. Situação que se torna ainda pior para quem tem atuado apenas nas aulas remotas.
Como gestor, fomente a convivência: proponha eventos de confraternização (dentro do permitido nas atuais medidas de saúde e segurança) para que todos possam ouvir e falar sobre suas práticas, mas também sobre trivialidades, como discutir notícias e a vida por si só. A ideia é não forçar ninguém a falar, no lugar disso, deixe claro que há espaço. Este tipo de reunião pode acontecer antes das aulas, durante os períodos de preparação ou após a dispensa dos estudantes.
Acolha o professor
Nem sempre algo tão simples é possível, mas em escolas onde os professores comem juntos, a congregação é mais informal e social, colaborando com a união. Uma boa opção também é planejar aulas, projetos e outras tarefas em conjunto que interliguem os conteúdos das áreas do conhecimento e conectem o corpo docente. Essa é uma ótima maneira de combater o sentimento de isolamento e a “mesmice” que às vezes pode fazer o trabalho parecer penoso demais.
De tudo isso, a mensagem que fica para as escolas é: acolha o professor, ouça-o, entenda as angústias e dificuldades. A partir daí, é possível traçar estratégias precisas e personalizadas a seu corpo docente, que incluam também palestras, treinamentos, atendimento psicológico e outras ajudas profissionais.
A pandemia abriu mais lacunas e deixou claro que ser professor no Brasil não é simples, mas os professores devem manter as coisas em perspectiva e perdoarem-se por não serem perfeitos, afinal, ninguém é, e as dificuldades também deixaram claro o quanto cada um foi capaz de demonstrar amor pelos alunos e fazer mais do que era possível. Reconhecemos como a Covid-19 virou o mundo de cabeça para baixo, mas também como os professores evitaram consequências irreparáveis.