Ser professor no contexto atual: um aprender sempre
1 de abril de 2021
Por Maria Helena Webster e Equipe de Linguagens
Ser professor no atual momento na educação, que passa por tantas novidades, é lidar com uma série de questionamentos. Muitas dúvidas e incertezas afloraram desde a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com a proposta do professor incentivar o protagonismo do estudante e se colocar como mediador de conhecimentos. Todos estes desafios foram se ampliando com a proposta de um Ensino Médio por área e não mais por disciplina. No meio da compreensão deste novo percurso veio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que levou muitos educadores a olhar para sua formação e seus planejamentos, se questionando, como fazer? O que vai demandar de mudança na minha prática?
Mediação: uma maneira de estar lado a lado
O texto Protagonismo juvenil: a conquista de uma trajetória, publicado neste blog, aborda o estudante nativo digital. Ler esta definição hoje nas escolas assusta no primeiro momento, mas é uma realidade. Este estudante mudou sua maneira de se relacionar com seus estudos, o que muitas vezes foi entendido como um discente disperso, que acaba abandonando a escola. Esta dispersão tem nome: novos interesses, novas buscas.
O que este novo perfil de estudante reflete no ser professor?
A resposta poderia estar na defasagem da utilização dos recursos digitais. Um como um usuário em pequenas buscas, o outro em um diálogo tão próximo que ele e o computador se tornam um ser único. É uma resposta válida e viável de ser compensada. A própria pandemia exigiu dos professores muitos aprendizados em relação à potencialidade do mundo digital. Mas esta pergunta também pode suscitar outros questionamentos. Que demandas formativas este novo estudante coloca para o ser professor? Uma das respostas pressupõe um novo diálogo entre professor e estudante.
Este diálogo seria a mediação? O significado de mediar está baseado na construção de um diálogo, onde os dois lados possam fazer suas argumentações, gerando uma interação entre o que argumenta e o que contra argumenta, após uma escuta atenta e não pejorativa. Quando uma pessoa argumenta sobre algum tema, o pensamento foi organizado, uma opinião formada e está sendo comunicada e defendida. Ela está se posicionando diante de todos que a escutam.
Como se formam estes diálogos?
Muitas vezes, o professor é surpreendido com a colocação de um estudante no início da aula sobre um tema que não faz parte da proposta do dia, que foi notícia na noite anterior, ou aconteceu em algum lugar não comum a todos. Ao abrir espaço para o relato, envolvendo uma escuta atenta, o professor está abrindo espaço para o estudante e para si mesmo. Ao abrir espaço para as percepções e argumentações dos estudantes, o professor está também se colocando no processo reflexivo sobre o tema ou assunto questionado, muitas vezes desconhecido.
Dar continuidade às colocações e mediar as argumentações, não tem a obrigatoriedade para o professor de se colocar como o “conhecedor do mundo”, mas sim como um participante do debate e, ao mesmo tempo, um mediador para que todos falem e o tema possa ser explorado com mais posicionamentos. Ao se posicionar igualmente aos estudantes, como um investigador e construir junto com eles, o seu posicionamento sobre as questões colocadas são contribuições e não decisões. O plenário é coletivo. Todos se posicionam e aprendem de uma forma cidadã.
Foi uma aula perdida? Ou uma aula com muito ganhos na aprendizagem?
Ao transformar a questão apontada pelo estudante em uma investigação que pode se estender após o período da aula, o professor abriu a porta para a possibilidade do desenvolvimento de um projeto. Um projeto muitas vezes é sinônimo de conexões com outras áreas do conhecimento, uma ação interdisciplinar, que permite aos participantes refletir e dialogar sobre múltiplos lados do tema proposto.
Ao levar a questão levantada, seja na reunião de coordenação como uma possibilidade de um projeto interdisciplinar, seja na “conversa de corredor” com outros professores, um ambiente de investigação se forma e este dialoga com proposta de projeto não “metodologia do passo a passo”, mas um projeto que parte de uma provocação e vai estabelecer seu percurso na própria construção. Um pensamento por projeto abre para a identificação de diferentes estratégias e diferentes investigações, utilizando os recursos materiais, presenciais e digitais de forma diversa.
Quantas competências são trabalhadas em uma investigação? Quantas habilidades são desenvolvidas? Quanto do tema que seria abordado na sala de aula esteve presente nas estratégias e investigações realizadas? Por isso, a pergunta novamente: foi uma aula perdida ou uma aula com muitos ganhos na aprendizagem? E para você, professor, um aprendizado?
Lado a lado, um novo conceito
Os conceitos e as experimentações ao saírem do cercado da sala de aula, espaço pré-determinado apenas para transmissão de um conhecimento, para um espaço investigativo, uma mudança fundamental acontece. O professor passa a perceber a prática pedagógica como um modo de autoformação, de olhar para as contribuições dos estudantes como um acréscimo, que irá permitir avaliar quais ideias foram significativas para você, quais entraram em atrito com as suas práticas anteriores.
São proposições desafiadoras para a sala de aula que movem o professor a interrogar a sua vida pedagógica e responder. O que vale mais ao cruzar a porta de saída da sala de aula? O sabor de ter experimentando estratégias investigativas com os estudantes, na reflexão sobre um assunto apontado por eles, ou o sabor de ser um transmissor de um conteúdo, em monólogo, já viciado, sem nenhuma vibração? Qual sabor? O sabor de ser também investigador com seus estudantes leva o professor a novos desafios, ou seja, a novos sabores.